Resenha: Capitão América – Guerra Civil
Depois de doze filmes, a Marvel conseguiu estabelecer o seu universo e tornar populares alguns de seus personagens até então desconhecidos do grande público. E Capitão América: Guerra Civil parte do princípio que você, caro espectador, vem acompanhando os acontecimentos desse universo, ou pelo menos, os mais importantes para os Vingadores, os que levaram os heróis até o momento atual. Faz diferença já conhecer os personagens e suas relações, mas se este não for o seu caso, o filme ainda consegue ser um ótimo entretenimento.
Ainda que o título possa sugerir um novo filme solo do Capitão América (Chris Evans), todos os outros Vingadores (bom, temos dois nomes de peso que ficaram de fora) estão na trama, tem seu tempo de tela e seus momentos de brilhar nas cenas de ação. Mas na essência, a história ainda é sobre o Capitão, sua amizade com Bucky (Sebastian Stan) e como as diferenças entre ele e Tony Stark (Robert Downey Jr.) – que vem desde o primeiro encontro dos dois lá no primeiro Vingadores – chegaram num ponto crítico.
A trama começa com uma missão dos Vingadores liderados pelo Capitão América, com a formação que terminou Vingadores: Era de Ultron. Mas quando um novo incidente envolvendo os heróis resulta num dano colateral, a pressão política exige que os Vingadores sejam supervisionados e respondam às autoridades, passando a agir apenas quando convocados. Para isso, é imposto a eles o Tratado de Sokovia, e os heróis acabam divergindo sobre assiná-lo ou não. De um lado, o Capitão defende que os Vingadores permaneçam livres para proteger a humanidade sem a interferência de um governo, enquanto do outro, o Homem de Ferro acredita que eles devem ser supervisionados.
Para piorar ainda mais o clima entre os heróis, a figura do Soldado Invernal ressurge das sombras. E um novo incidente envolvendo o velho amigo do Capitão América coloca um pouco de urgência na trama, dividindo de vez os dois lados.
Apesar desse resumo, e do que o título possa fazer você pensar, Capitão América: Guerra Civil não é um filme sobre política. Ele é um filme sobre amizade. E em tempos em que amizades são desfeitas (ainda que nas redes sociais) porque “fulano apoia tal coisa e eu não” ou “ciclano é contra o que eu acredito”, talvez um filme sobre amizade seja mais relevante do que um sobre política.
Quando os Vingadores são colocados de lados opostos e os inevitáveis confrontos começam, não são apenas dois (ou mais) heróis brigando. São amigos que se encontram de lados contrários por defenderem ideais diferentes. O peso de ter que lutar contra alguém que já esteve ao seu lado é muito maior do que enfrentar um grande vilão. É algo doloroso, tanto para os personagens quanto para quem está assistindo. E é exatamente aí que faz diferença você ter visto os filmes anteriores. Entender como as relações entre esses personagens foram se desenvolvendo ajuda a aproveitar melhor esses momentos do filme. A experiência de quem está tendo contato com o universo Marvel pela primeira vez não será a mesma, ainda que haja uma preocupação do roteiro em mostrar as motivações de cada um no meio do conflito.
E falando em personagens, são muitos dividindo a tela. Capitão América, Bucky e Homem de Ferro são os três pilares da trama, mas há espaço para a Viúva Negra (Scarlett Johansson), para a relação da Feiticeira Escarlate (Elizabeth Olsen) e do Visão (Paul Bettany), para as tiradas do Falcão (Antonhy Mackie), do Máquina de Combate (Don Cheadle) e do Gavião Arqueiro (Jeremy Renner) e para a incrível participação especial do Homem-Formiga (Paul Rudd). Mas são as novas adições do elenco que realmente brilham no filme. Sim, estamos falando do Pantera Negra (Chadwick Boseman) e do Homem-Aranha (Tom Holland). Ambos conseguem deixar aquela vontade de querer ver filmes só deles, seja por conta da imponência do Pantera em cena, seja pelo excelente tom que a Marvel achou para a sua encarnação do Aranha.
Por fim, chegou a hora de falar do ponto que destoa um pouco do resto: o vilão. Pode acreditar, no meio dessa treta toda entre os heróis, ainda há espaço para Helmut Zemo (Daniel Brühl), que do personagem dos quadrinhos só carrega mesmo o nome. Não é de hoje que a Marvel erra a mão com os vilões de seus filmes, e Zemo só não é mais um grande erro porque o seu plano – que exige uma suspensão de descrença por conta das coincidências necessárias para ele funcionar – possui algumas reviravoltas que fazem o filme fugir um pouco do final esperado.
Os méritos de Capitão América: Guerra Civil são muito por conta dos seus diretores, Joe e Anthony Russo, que conseguem entregar cenas de ação incríveis sem deixar de explorar os personagens e seus conflitos internos. Há momentos sérios e que carregam uma carga dramática, mas o filme consegue manter o clima leve e divertido que já se estabeleceu como uma das características da Marvel no cinema. Se você quer curtir um bom filme e se divertir durante 2 horas e meia, vá assistir porque vale o ingresso.