Filmes de super-heróis são mais do que “só filmes de super heróis”
Filmes de super-heróis sempre se fizeram presentes em Hollywood mas, desde 2008, fomos inundados por uma onda de adaptações do que agora se tornou um gênero em si. O surgimento do Marvel Studios pode não ter começado isso mas se tornou o principal responsável e a referência no mercado para os filmes vindouros. E super-heróis passaram a fazer parte da nossa cultura, do nosso vestuário e em bate-papo no bar. De muitas formas, este mesmo site existe por causa dessa cultura.
Mas do seu surgimento para cá a indústria parece que transformou o agora gênero em apenas máquina de fazer dinheiro. O primeiro “Vingadores“ fez mais de 1,5 bilhão de dólares em arrecadação mundial. O recente Aquaman, do novo Universo DC (a era pós Snyder) dos cinemas, passou a marca dos 700 milhões e segue a arrecadar mais e mais. O fato é que os estúdios encontraram nesses filmes um público fiel e apaixonado, e também querem uma gorda fatia desse bolo.
Aí entra o problema principal que vejo: Não sou contra filmes de super-heróis, que fique claro. Mas penso que, se quisermos que mais sejam produzidos e que o gênero perdure, não podemos abrir mão da qualidade dos mesmos nem deixar de lhes dar o devido peso, parar de dar crédito mesmo sem merecer. Em suma, temos que parar com a famosa máxima “ah! é só um filme de herói”.
Nós ditamos as regras
Para isso nós, como público pagante, devemos parar de tratar tais personagens como simplesmente “personagens de quadrinhos” e sim nos atentarmos à profundidade e relevância da história que que ser contada pois ao mesmo tempo que a palavra “super-herói” atrai ela também afasta uma fatia do público que simplesmente não se interessa pelo gênero. Nada contra, gosto pessoal. Mas pessoas deixam de ver bons filmes como Batman Begins por acharem que será uma bobeira com tiro, explosões e ação descerebrada, mas vê Corpo Fechado e gosta muito mais mesmo sem perceber de que ambos são, em sua essência, a mesma coisa: um filme de herói. Cada um com sua leitura e profundidade mas, essencialmente, falam da mesma coisa.
A Marvel hoje colhe os frutos de Pantera Negra, que se tornou não só importe para a indústria mas também representativo na esfera social. Usa do aspecto fantasioso do super-herói para mostrar uma sociedade utópica que não prosperou sem a interferência do colonialismo e nos traz um vilão afetado por uma sociedade por esses mesmos problemas. E o surgimento de um rei que busca formar a sua própria identidade apesar dos erros passados do pai. Isso sem enumerar questões como identidade negra e empoderamento feminino. Ao escolher um diretor negro para conduzir um filme com um elenco negro em sua maioria, a Marvel atingiu o sonho da criança negra que pode se ver representada no cinema e sonhar que pode também ser um super-herói.
Para mim os melhores filmes de herói são aqueles que não são caracterizados pelo gênero, mas sim usam dele como pano de fundo para apresentar um problema real ou um problema mais próximo do público geral. Christopher Nolan executou dessa forma a Trilogia do Batman. Ele não fez filmes do Batman, ele fez filmes COM o Batman. No primeiro filme, o herói só aparece em três sequências e ainda assim demora quase uma hora para fazê-lo da primeira vez. Nolan se concentrou em construiu toda uma cadeia de crime e corrupção em uma cidade tomada pela máfia que se fez necessário uma figura que não estivesse presa às amarras da lei. E, nos filmes seguintes, isso mostra suas consequências. Bryan Singer, em 2000, executou seu primeiro X-Men não como um filme de herói, mas uma ficção científica com argumentos políticos.
Não esquecer da diversão
Mas por outro lado não quero descartar a questão do filme como entretenimento. O filme de herói também funciona para isso, como os ótimos Guardiões da Galáxia e Deadpool nos mostraram. Simplesmente apontar que nós precisamos aumentar a nossa linha de corte se quisermos mais materiais de qualidade, que se tornem mais relevantes para o público do que simplesmente diversão descartável. Ela também é importante, mas se queremos que o gênero do filme de heróis seja levado à sério pela indústria, principalmente pelas premiações, é preciso filmes que ousem e não apenas sejam rotulados pelo que eles são.
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