Resenha: O Pintassilgo
Uma das culturas hollywoodianas é “fez sucesso nas livrarias? Vamos fazer um filme” e isso não é de agora. Alguns nos renderam ótimas adaptações, outras passam tão desapercebido que mal sabemos que se trata de um livro. Acho que “O Pintassilgo” (The Goldfinch) se coloca na segunda categoria. Por maior que tenha sido seu sucesso como Best-seller, a adaptação da obra de Donna Tartt parece ter perdido seu poder na sua transposição, se tornando apenas mais um drama meloso.
O filme conta a história de Theodore “Theo” Decker (Alsen Elgort, de “A Culpa é das Estrelas”), jovem que fica marcado para sempre após sobreviver a um atentado terrorista em uma galeria de arte que tragicamente acabou com a vida da mãe. Mais do que marcar sua vida, o acontecimento traça toda uma cadeia de eventos em sua vida, desde a infância com o retorno de seu pai (Luke Evans) até entrar nas vidas de pessoas como o lar dos Barbour, ficando íntimo da mãe (Nicole Kidman) e do restaurador de peças antigas Hobie (jeffrey Wright). Tudo isso carregando uma única lembrança daquele fatídico dia: uma famosa pintura de um pintassilgo.
Infelizmente os grandes nomes do elenco não seguram a trama arrastada por 149 minutos. A montagem não-linear também é bastante problemática, deixando sempre a confusão por saber que parte da história de Theo estamos acompanhando e por que somos jogados para a infância do rapaz enquanto acompanhamos os momentos da vida adulta. Claro que em algum momento o passado explica o que se tornou a vida do jovem no futuro, mas definitivamente essas passagens não são bem feitas. A edição não conversa com o roteiro, o que acarreta em um demasiado gasto de tempo do filme mostrando o passado e o presente. E em uma última mudança brusca, o filme passa de um drama sobre culpa e consequências para um thriller de ação, tudo girando em torno da relíquia.
As atuações também não impressionam. Mesmo com cenas boas, todas envolvendo Wright, nomes como o de Kidman não acrescentam nada à trama, e Elgort não transparece o transtorno e trauma do personagem, que se vale de drogas para anestesiar tais sentimentos. Aliás temos bons momentos de real transtorno do personagem, como sua infância traumática em Vegas com o pai e a madrasta (Sarah Paulson), mas que não se aprofundam, apenas passando superficialmente pelos traumas da criança. A única voz sensata no filme é a de Pippa (Ashleigh Cummings), amiga de Theo que também foi traumatizada pelo atentado.
Com uma direção que se perde ao longo do caminho e atuações pouco inspiradas, O Pintassilgo infelizmente é mais uma obra que perde o poder dos temas que a obra literária se propõe. O livro gerou um burburinho por trazer uma história de atentado nos EUA pós 11 de setembro, e figurou meses entre os mais lidos do New York Times, justamente por abordar esses temas de trauma, culpa e fantasmas do passado. Algo que a trama cinematográfica explora, mas nunca a fundo.