Resenha: Enquanto Houver Amor
Enquanto Houver Amor (Hope Gap) conta a história de Grace (Annette Bening, de ‘Capitã Marvel’) e Edward (Bill Nighy, de “Simplesmente Amor”), casados há quase 30 anos, que moram em uma pequena cidade, perto da enseada de Hope Gap. Quando o filho deles, Jamie (Josh O’Connor), vem visitá-los no fim de semana, Edward informa que ele planeja deixar Grace, pois não está mais feliz no casamento e se apaixonou por outra mulher, Angela. A história é baseada em uma parte da vida do diretor e roteirista William Nicholson, que viu seus pais se divorciaram após 30 anos de casados. Isso fez ele mudar a maneira como ele via sua família, não sendo mais tão inquebrável como imaginava.
A proposta do filme é muito boa, mas o que nos faz ficarmos ainda mais encantados é o roteiro muito bem escrito por Nicholson – que foi indicado ao Oscar pelos roteiros de “Gladiador” (2000) e “Terra das Sombras” (1993). Os diálogos e a trama são complementados por poemas recitados pelos próprios atores. Esses poemas conseguem mostrar o sentimento de cada personagem, podendo, até mesmo, moldar como vemos cada um naquela situação.
Tais poemas e poesias são sempre acompanhados por uma trilha sonora (Alex Heffes, de “Rainha de Katwe”) delicada e que embala o ritmo da leitura. Assim, levando-nos para dentro do poema, sem atrapalhar a história do casal.
Dessa maneira podemos interpretar várias conversas ali dentro, outro diálogo cheio de metáforas acontece entre Edward e um aluno, quando ele lê um texto sobre os feridos em guerra que são largados no meio da estrada para morrerem congelados. O aluno diz que não tiraria as roupas dos mortos e Edward rebate perguntando “não tiraria por compaixão ou pudor?”. Esse questionamento poderia ser feito para ele mesmo, em relação ao porquê ter demorado tanto para ter assumido a traição que cometeu. Nesse mesmo diálogo, o personagem sugere que não queria olhar para trás, para os corpos mortos, ou olhando para a vida dele: ele desejava terminar o casamento dele e seguir em diante.
Outro aspecto muito interessante da trama é como cada personagem se expressa e como cada uma lida com a separação. Antes de saber que Edward quer o divórcio, Grace quer forçar o marido a expressar seus sentimentos da mesma forma que ela, chegando ao extremo de agredi-lo. Cada um de nós temos uma maneira de nos expressar e lidar com nossas emoções e devemos respeitar. E, após o término do relacionamento ela passa por vários estágios, como a raiva, o choque e, principalmente, a negação.
Jamie, o filho, demonstrava incômodo com a previsibilidade no relacionamento com os pais. Porém, após o término, ele ficou perdido entre os pais, sem querer apoiar um lado e tentando ser sensível com o sofrimento de cada um. No final, querendo apenas andar de mãos dadas com seus pais.
Edward erra quando não se expressa verdadeiramente para Grace, ele faz de tudo para ser aquilo que ela deseja/precisa em relação a ele. Se tornando, assim, em uma pessoa desgostosa com o relacionamento e trai ela.
Para dar vida a esses personagens a escolha do elenco foi incrível, Annette Bening (Georgetown), Bill Nighy (Questão de Tempo) e Josh O’Connor (The Crown), não deixaram a desejar em nenhum momento.
Um terceiro ponto que faz toda a diferença no filme é a fotografia, que em alguns momentos específicos traz um leve suspense e reforça o drama que todos estão passando. Além de realçar as belas paisagens e ondas de Hope Gap com muitos movimentos de câmeras.