Resenha: Batman

Resenha: Batman

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Tá aí um filme que enfrentou muita coisa para ver a luz do dia. Ou melhor, o escuro do cinema. O que seria um filme solo estrelado e dirigido por Ben Affleck, que daria continuidade aos eventos estabelecidos em “Liga da Justiça” e, por extensão, ao Snyderverso, acabou encontrando dificuldades por parte dos executivos, já insatisfeitos com a visão dada aos heróis por Snyder, e do novo diretor contratado, Matt Reeves, que queria implementar uma visão diferente da do roteiro já estabelecido. Foi a desculpa perfeita que os executivos queriam para se livrar das sementes plantadas por Snyder. Desde então, passando por uma pandemia global, foram 5 anos.

A visão de Reeves era clara: fugir a zona de conforto das adaptações de HQ, mostrando o personagem em suas origens, sem ser um filme de origem. Uma espécie de “Ano Dois” do morcego, em um mundo fundamentado, como a famosa HQ “Ano Um”. Mas optando por algo mais intimista, com um Batman cheio de dúvidas e tormentos. Fazer um filme do Batman, e não um filme com o Batman, como os anteriores.

Para nossa sorte, é um filme que não chega a ser perfeito, mas está muito perto disso.

 

Um filme de quadrinhos em seu núcleo

Reeves também opta por criar uma Gotham, e todo o mundo por assim dizer, muito mais vivo e próximo dos quadrinhos do que em todos os filmes anteriores. Ao invés de usar de poucos vilões (ou somente um), o diretor coloca um vilão principal, mas introduz vários ao longo das 3 horas de duração do filme. Ao mesmo tempo em que a própria cidade funciona como uma vilã, esmagando sob seu peso todos aqueles que querem simplesmente levar uma vida honesta em uma cidade corrupta em todos os seus aspectos. Uma Gotham viva, mas apática e que leva os seus habitantes a serem apáticos.

Nesse ambiente, pessoas proeminentes começam a ser mortas e cabe ao Batman (Robert Pattinson) encontrar esse perigoso assassino que deixa pistas em forma de charadas. Para isso, o herói inicia uma investigação que o leva ao submundo de Gotham, cruzando no caminho de aliados como a Mulher-Gato (Zoë Kravitz) e o, então, Tenente Gordon (Jeffrey Wright) e inimigos como o Pinguim (Colin Farrell) e o mafioso Carmine Falcone (John Turturro). Mas a investigação acaba levando Bruce a conhecer segredos que nunca imaginou, e usar suas habilidades ao máximo para resolver o mistério.

“Batman” aposta na contramão das adaptações atuais e substitui isso por uma história de crime, com uma versão sua que nunca vimos, mas que fãs sempre torciam para ver: o Batman detetive. Todo o clima do filme se mostra muito mais como um thriller psicológico do que tudo que foi visto no gênero desde o sucesso da Marvel (e falo isso de filmes da DC também).

Reeves executa o filme com maestria, usando de todos os recursos disponíveis, atores, trilha, edição, ritmo, figurino e cenários, para criar um lugar claustrofóbico e opressor. A escolha narrativa também evidencia a abordagem mais quadrinhos para o filme. Reeves coloca Bruce como um narrador da sua história, sem saber exatamente como se encaixar naquele mundo e se mesmo seu trabalho como Batman é eficaz.

Dois pontos que valem muito destaque nos aspectos técnicos do filme são a fotografia de Greig Fraser, explorando perfeitamente as cores para completar a ambientação da cidade e o aspecto sombrio do herói. Quando Batman fala que é as sombras, a fotografia exalta o preto como se o Batman estivesse em todo o lugar, espreitando em todas as sombras, à procura do próximo criminoso a deter. E quando um criminoso se depara com uma sombra, a sombra o olha de volta. É aterrorizante. Quando há luz, ou ela é usada de forma fosca, sem vida, ou tudo estoura em lindos tons de vermelho, um toque que distingue esse filme dos seus predecessores.

Embora não seja o foco do filme, a ação é pontual, perfeitamente executada e muito unida com a parte técnica. Atenção à cena do Batmóvel, a melhor do filme.

 

Elenco à altura

Um filme é tão grande quanto o seu elenco, e “Batman” nesse aspecto não decepciona. Eu admito não ter abraçado a ideia de ter Pattinson como o herói, mas sabia que, atualmente, não haveria ninguém mais qualificado para a tarefa. E Pattinson toma o personagem para si.

Aqui, a persona de Bruce Wayne ainda não existe, sendo muito similar a um roqueiro esquisito escondido dia e noite em sua torre. Ou, no caso, em sua mansão, completamente sem vida e fantasmagórica, refletindo as características de seu dono. Bruce não existe, é uma concha vazia, que não liga para as frivolidades do mundo e não deseja nada além da sua missão, que é onde ele encontra propósito, mesmo que comece a duvidar dela.

Kravitz está incrível como Mulher-Gato, tanto no aspecto cativante da personagem quanto em sua fisicalidade e movimentos. Farrell faz jus e some dentro da maquiagem e da interpretação do seu Pinguim, fornecendo prazeres à elite corrupta da cidade. Não à toa, o personagem ganhará uma série própria. Dano, mesmo com pouco tempo de cena, tem sua chance de brilhar e mostrar uma versão totalmente diferente do Charada. E Wright constrói o seu Tenente Gordon com muita segurança, mostrando como ele fica desconfortável de lidar com colegas tão corruptos e ainda assim seguir com fé na justiça e no sistema.

 

A moral da história

Reeves constrói uma Gotham que é um verdadeiro inferno, corrupta desde os seus alicerces, o cenário perfeito para um Batman. Mas aqui, ele ainda não é o herói estabelecido, e sim alguém que busca na violência e na máscara espancar seus demônios. Seus atos contra a criminalidade produz uma escalada no crime, cuja resposta vem na forma do Charada.

A frase que os fãs tanto vibraram no trailer, “eu sou a vingança”, não está lá somente para fã service, mas tem profundo significado com tudo que acontece no filme, e na sua conclusão, que é o ponto mais fraco do filme para mim. Não pela sua mensagem, ou pela cena, mas por sentir que ela poderia ter sido muito mais poderosa e catártica. Mas nada que comprometa seu resultado final.

“Batman” é um filme esplêndido, grandioso, que deve ser apreciado por todos, desde fã de quadrinhos à críticos do cinema de arte. Mais do que um simples blockbuster, é o motivo pelo qual filmes são feitos.

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