Crítica: O Homem da Máfia

Crítica: O Homem da Máfia

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Filmes sobre mafiosos não precisam de muito esforço para cair no gosto do público, pois há um certo fascínio em torno do mundo da máfia que é estranho de se explicar. Mesmo assim, esse gênero não é nenhuma novidade e já foi explorado por Hollywood diversas vezes, desde clássicos como O Poderoso Chefão até o mais recente Os Infratores, e a fórmula já está meio batida. O Homem da Máfia (Killing Them Softly), no entanto, apresenta uma abordagem diferente (mas que não chega a ser totalmente original), criando paralelos entre as relações entre os mafiosos e o mundo da política durante a crise econômica nos Estados Unidos. Parece pretencioso, mas o resultado final é muito interessante.

Antes de falar sobre a trama, é imporatante dizer em que época o filme se passa. Não que a fita não vá te lembrar disto desde sua cena inicial até os últimos minutos, mas O Homem da Máfia se passa durante as eleições de 2008 nos Estados Unidos, sendo pontuado a todo instante por discursos de George Bush (Presidente em exercício na época), John McCain (o candidato Republicano) e Barack Obama (o candidato Democrata).

O filme começa apresentando o plano aparentemente perfeito de Johnny “Esquilo” Amato (Vincent Curatola) e seus parceiros/capangas Frankie (Scoot McNairy) e Russell (Ben Mendelsohn) para roubar uma casa de pôquer clandestina frequentada por altos figurões da máfia de Boston. Se tudo saisse conforme o planejado, eles ficariam numa boa, já que o gerente do local, Markie Trattman (Ray Liotta), havia roubado o próprio negócio uma vez e levaria a culpa novamente. O problema para eles é que, desta vez, os chefões da máfia local não pretendem deixar barato e decidem resolver a situação da melhor maneira possível, e claro que isso envolve algumas mortes. Para executar o serviço, surge Jackie Cogan (Brad Pitt), um assassino que gosta de matar suas vítimas suavemente e à distância, evitando assim todo o sentimentalismo do momento da morte.

Apesar da trama envolvendo mafiosos e assassinos, não há perseguições ou grandes cenas de tiroteio. O filme se sustenta nos diálogos bem construídos – entre palavrões, piadas chulas, reflexões existenciais e histórias contadas pelos personagens – deixando a ação desenfreada de lado.

Como pano de fundo da trama, trechos de discursos de Bush, McCain e Obama sobre a política financeira americana, que na época enfrentava os sinais da crise, criam alguns paralelos entre o munda da máfia e o mundo da política. O personagem anônimo vivido por Richard Jenkins deixa claro a todo instante que nenhuma decisão pode ser tomada sem que os chefões, que formam um tipo de conselho, discutam sobre o assunto, o que irrita profundamente Cogan (Pitt), que não entende porque não se pode simplesmente resolver logo as coisas. Qualquer semelhança com a política não é mera coincidência.

O auge da crítica feita pelo filme vem na cena final, em que um diálogo muito bem escrito pelo roteirista/diretor Andrew Dominik critica o primeiro discurso de Barack Obama depois de eleito (por favor, isso não é spoiler, né?), a história americana (sobra até pro Thomas Jefferson) e o modo de vida americano (tão exaltado pelos discursos cheios de patriotismo).

O elenco todo manda muito bem, com destaque para Brad Pitt, que mesmo sendo o responsável por sustentar o enredo no decorrer do filme, divide a atenção com Scoot McNairy no papel de Frankie. Ben Mendelsohn, que vive o viciado e alucinado Russell, também tem ótimas cenas, com destaque para a conversa que ele tem com seu parceiro enquanto usam drogas. Até James Gandolfini, que ficou tão conhecido por viver um mafioso na série Família Soprano, é convincente no papel de Mickey, um assassino que passa por uma crise existencial e que em cada cena parece estar numa sessão de terapia com o personagem de Pitt.

E aí, vale a pena? Se você está querendo ver cenas de ação e muito tiroteio, O Homem da Máfia não é o que você procura. Mas em nenhum momento isso diminui a qualidade do filme, que mesmo sendo relativamente curto para os padrões atuais (apenas 97 minutos), tem uma trama interessante contada sem pressa e com o tempo certo para não cansar o espectador. Vale muito a pena conferir!

 

Killing Them Softly, EUA , 2012 – 97 min.

Elenco: Brad Pitt, Scoot McNairy, Ben Mendelsohn, James Gandolfini, Richard Jenkins, Ray Liotta e Sam Shepard.

Direção: Andrew Dominik

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