Crítica: O Hobbit – Uma Jornada Inesperada
[A crítica a seguir foi escrita com base na versão em 24FPS e em 2D do filme. Por isso, não foi possível analisar o 3D nem a polêmica versão em 48FPS.]
Quase nove anos depois do lançamento do terceiro filme de O Senhor dos Anéis, o diretor Peter Jackson nos leva de volta à Terra-Média no tão esperado O Hobbit – Uma Jornada Inesperada, que dá início a uma nova trilogia adaptando a obra literária de J.R.R. Tolkien. Graças à escolha de filmar o longa novamente nas belíssimas paisagens da Nova Zelândia e à visão que o cineasta tem da obra de Tolkien, nos sentimos realmente dentro do mesmo mundo criado na trilogia anterior. E como é bom estar de volta!
A narrativa começa momentos antes do início de A Sociedade do Anel, mostrando o velho Bilbo Bolseiro (Ian Holm) no Condado, numa sequência curta, mas que graças à utilização da mesma trilha sonora do filme de mais de 10 anos atrás, emociona qualquer fã. A partir daí, somos levados de volta no tempo e nos deparamos com um Bilbo mais jovem (Martin Freeman) vivendo pacatamente no mesmo local. Sua rotina muda completamente com a chegada do mago Gandalf (Ian McKellen) e de 13 anões, liderados por Thorin Escudo-de-Carvalho (Richard Armitage). Num encontro bem tumultuado com direito a dois números musicais, Bilbo acaba sendo “convidado” a partir numa jornada com o grupo rumo à Montanha Solitária, onde tentarão recuperar o tesouro dos anões e o que um dia foi o Reino Anão de Erebor, tomados pelo dragão Smaug. É nessa aventura que Bilbo encontra o Um Anel, objeto central da trilogia O Senhor dos Anéis.
O Hobbit, como livro, é uma história mais leve e infantil do que os da Trilogia do Anel, e o diretor soube aproveitar isso e deu espaço para uma boa dose de humor e aventura no filme. No entanto, como se trata de uma adaptação, Peter Jackson tomou certas liberdades criativas em relação ao material original, assim como fez nos três filmes anteriores. Algumas mudanças feitas serviram para dar um propósito mais grandioso (e nobre) à jornada dos heróis, criar personalidades diferentes para cada um dos 13 anões, dar uma motivação mais real aos vilões e para amarrar a trama aos eventos que foram vistos em O Senhor dos Anéis, transformando a nova trilogia num verdadeiro prelúdio. Com isso, o filme ficou com um tom mais sombrio do que o livro original, e passa longe de ser “um filme para crianças”.
Os fãs mais radicais podem até se incomodar com a inserção de eventos e de personagens que não fazem parte do livro ou que só são citados nos apêndices escritos por Tolkien, mas para os demais, é um verdadeiro deleite poder ver, mesmo que em pequenas participações, figuras conhecidas como Frodo (Elijah Wood), Elrond (Hugo Weaving), Galadriel (Cate Blanchett), Saruman (Christopher Lee) e o velho Bilbo (Ian Holm).
Mesmo que seja muito legal ver os personagens da trilogia do Anel fazendo pontas, o novo elenco não deixa desejar. Bem longe disso, porque as atuações são ótimas, com destaque para Martin Freeman (Bilbo) e Richard Armitage (Thorin), que são carismáticos e conseguem conquistar o público ao longo do filme. Dos já conhecidos, Ian McKellen está muito mais à vontade como Gandalf e Andy Serkis aproveita a melhoria da tecnologia de captação de movimentos para criar um Gollum ainda mais expressivo.
Visualmente, Uma Jornada Inesperada mantém o mesmo padrão da trilogia anterior, com cenários grandiosos e que apresentam ainda mais detalhes e com as tomadas aéreas, que continuam belas e fantásticas. Os efeitos visuais desenvolvidos pela Weta Digital estão mais bonitos e há visíveis melhorias nas texturas e nas expressões dos personagens criados por computador graças ao avanço da tecnologia, o que dá um realismo impressionante às criaturas como trolls, orcs e wargs. Nesse quesito, o destaque vai para o precioso Gollum (Andy Serkis), muito mais detalhado e com mais expressões faciais do que muito ator de carne e osso que tem por aí.
Porém, nem tudo é perfeito e o filme tem alguns pequenos problemas. O primeiro, que não deve incomodar a maioria, está em alguns (poucos, mas eles estão lá) personagens criados por computador, que parecem carecer de um maior polimento por parte da Weta. O segundo, que incomoda um pouco mais, é que ao modificar algumas cenas do livro para incluir mais ação, Peter Jackson parece ter dado uma esticada mais do que o necessário na duração do filme. Não que os 169 minutos da fita signifiquem alguma coisa pra quem dedicou seu tempo às versões estendidas da Trilogia do Anel, mas uns 20 minutos a menos teriam deixado o ritmo do filme perfeito.
Enfim, O Hobbit: Uma Jornada Inesperada é uma boa introdução à nova trilogia e, para o público que não conhece os filmes anteriores, ele é um bom filme de aventura e fantasia. Para estas pessoas, no entanto, a experiência não será a mesma, porque mesmo que ele seja um prelúdio e funcione de forma independente dos anteriores, faz uma diferença enorme ter assistido aos três filmes do Senhor dos Anéis antes de partir para a sessão de O Hobbit. Fica a dica, mas mesmo assim, vale a pena assistir!
Agora é só esperar pela segunda parte, A Desolação de Smaug. Só falta um ano…