“Branca de Neve e Os Sete Anões”: 80 anos do clássico dos clássicos da Disney
No início dos século passado, a loucura de um homem resultou num dos mais importantes filmes de todos os tempos
Em 2018 se comemora OITENTA anos de um dos maiores clássicos já criados pelo cinema. Foi com “Branca de Neve e os Sete Anões” que o mundo viu de maneira mais ampla a realização de um sonho de Walt Disney, e em 1938 foi consagrado de vez como um visionário único, firmando as bases de tudo que os estúdios com seu nome representam até hoje.
Por volta de 1930, as animações para o cinema não duravam mais que 5 ou 10 minutos em tela. Como notícias curtas e informes rápidos, elas serviam como os trailers de hoje em dia: uma prévia para as obras principais. E foi neste cenário segmentado que Walt Disney resolveu arriscar seu próprio estúdio com seu sonho: Fazer um filme de fato, com animação.
Apesar de Disney já ser conhecido naquela época, criar uma obra deste tamanho era visto como desafio quase que insano, essa insistência dele, na época com pouco mais de 30 anos de idade, quase o levou à bancarrota, sendo motivo de chacota em Hollywood por todo o período que durou a produção. A imprensa da época chegou a apelidar o projeto de “A Loucura de Disney”; Acreditava-se que seria um fracasso, que o público se cansaria rapidamente com toda a cor e narrativas, fora os custos milionários: a produção almejada inicialmente em US$ 250 mil terminou com um custo de quase US$ 1,5 milhão ao final de três anos de produção, fazendo o empresário colocar até sua casa à venda para bancar o projeto.
Pra fazer a divulgação do filme, o estúdio usou os noticiários que falavam desta loucura à época, e o próprio Walt Disney aparecia em trailers, como mostra este vídeo:
A Criação
Adaptada do conto clássico dos irmãos Grimm em 1800, a história precisou de uma uma mesa de oito roteiristas. A direção também teve múltiplos nomes, cinco no total. Todos eles foram supervisionados por David Hand, que mais tarde também se responsabilizaria por outro clássico do estúdio: Bambi. Os primeiros roteiros para “Branca de Neve” possuíam um tom mais cartunesco, à exemplo das animações que o estúdio Walt Disney já produzia com as Silly Simphonies. Walt pediu para reescreverem a história deixando-a mais “plausível” e incentivou os roteiristas a assistirem longas da época como “Romeu e Julieta” e “Nosferatu”. Além das obras de outros, a criação de “Branca de Neve” referenciava a própria óbra do estúdio, como na animação A deusa da Primavera (1934) , que serviu como ponto de partida para criar os trejeitos da princesa.
A chegada ao Brasil
No Brasil, “Branca de Neve e os Sete Anões” chegou em janeiro de 1938. Por aqui, as adaptações foram realizadas pelo famoso compositor carioca Radamés Gnatalli e a dublagem contou com grandes compositores e cantores do rádio nacional à época, como Almirante, Braguinha, Carlos Galhardo, e Dalva de Oliveira, que deu voz à protagonista. Esta dublagem perdurou até os contantes relançamentos do filme, até que na década de 60 o estúdio RioSom – RJ refez o coro original, incluindo nomes como Domício Costa e Orlando Drummond.
A importância persiste
Se a maior loucura de Disney foi conduzir uma história de animação por 87 minutos em tela, ela se tornou de certa forma a nossa loucura. “Branca de Neve” é o primeiro grande sucesso do cinema falado, com traços suaves que cativam e atravessam o tempo e canções singelas que viraram parte do folclore popular, mesmo após oitenta anos de criação. Com o cinema de animação passando por mudanças ao longo de todo este tempo, “Branca de Neve e os Sete Anões” continua a ser uma das obras cinematográficas das mais emocionantes já desenvolvidas, sendo digna de alcançar a marca de maior bilheteria do cinema falado à época;
Hoje, desconsiderando a inflação, as arrecadações com os relançamentos da obra já conseguiram mais de cem vezes o valor que ela custou. Porém, seu valor histórico e sua importância para a indústria de entretenimento em si é imensurável. “Branca de Neve e os Sete Anões” não é uma obra pra se ter na estante, como um clássico que só é lembrado em estudos, mas continua uma obra viva, que cativa e encanta gerações de pais, filhos e filhos dos filhos. Se existem hoje em dia dezenas de longas animados, todos vistos como “normais”, é porque lá atrás a loucura de se fazer um único deles escancarou as portas de Hollywood para eles. Por isso, cada obra posterior vem com um obrigado, de forma velada, graças à esta loucura que Walt Disney cometeu ao tornar seu maior desafio um filme imortal.
Curiosidades
- Os anões só possuem nomes por causa do filme. O conto original dos irmãos Grimm nunca os nomeou.
- “Branca de Neve e os Sete Anões” foi o primeiro filme a ter uma trilha sonora à parte. Foram 25 músicas compostas para o filme, mas apenas oito permaneceram.
- No início da década de 2000, foi pensado em um prequel para a história de Branca de Neve. O problema é que se desenvolveu uma história Dark, onde mostraria a Rainha matando o pai de Branca de Neve e Dunga perdendo a voz após presenciar uma morte! Essa versão foi solenemente cancelada assim que o presidente atual, John Lasseter, assumiu o comando criativo em 2006.
- O príncipe encantado só aparece no começo e fim do filme por um motivo: Os desenhistas tinham dificuldades de criar o esboço dele. “O mais difícil de se desenhar é um corpo humano. O mais difícil ainda é criar um corpo masculino”, dizia um dos desenhistas.
- Em 1939, a cerimônia do Oscar criou um prêmio especial para Walt Disney e “Branca de Neve”: Uma honraria pela “Significativa inovação que encantou milhões e foi pioneira em um novo caminho para os filmes de animação”. Foi o famoso caso da estatueta grande seguido de sete miniaturas .