Coletiva: O Pequeno Príncipe
Nesta segunda (13 de julho), rolou no Rio de Janeiro a coletiva de imprensa da animação O Pequeno Príncipe, com o ator Marcos Caruso, que dublou o Aviador, e com o diretor Mark Osborne, que está no Brasil divulgando o filme e na noite anterior o apresentou ao público do Anima Mundi 2015. Ambos estavam muito dispostos a responder às perguntas e partilharam suas experiências com a obra original e com o desenvolvimento da animação.
Uma das coisas que o filme mais me chamou à atenção foram os personagens infantis (a menina e o Príncipe) se parecerem com os filhos do diretor. Osborne confirmou que se baseou em algumas expressões, mas “por mais que queira, há muito mais expressões e articulações para se trabalhar, não dá pra basear tudo. Trabalhamos para que a menina fosse comum, que pudesse ser relacionada a qualquer menina. Mas fico feliz que tenha notado a semelhança”.
Um dos fortes temas nesse novo longa é o rápido crescimento das crianças e Osborne comentou que isso se correlaciona com a sua experiência com a obra original: “O mundo de hoje é muito rápido, o livro mostra que sempre podemos ir mais devagar e olhar as estrelas, pois hoje tudo é muito rápido e com tantas tarefas”. E Caruso, que não tinha visto o filme todo até a apresentação no Anima Mundi, complementou: “Fiquei muito emocionado com essa pegada do filme, mostrar quem essas crianças são hoje. Devemos nos preocupar mais com o humano, o sentimento, do que com as possibilidades, ou os compromissos. Haverão escolas sempre, já o sentimento em relação às coisas só se aprende na infância”.
E apesar do aspecto tecnológico do filme, Osborne afirma que o filme é atemporal: “Queria que o filme também fosse assim, sem iPhones, que vão ficar datados muito rapidamente. Queria que ele fosse contemporâneo, fácil de se relacionar. Então coloquei a tecnologia na arquitetura do filme, no mundo dos adultos, para servir como um contraste com a casa do aviador, que é mais orgânica”.
Osborne falou também sobre seu amor por animações, em especial as de Hayao Miyazaki. Perguntado como usou essas referências, Osborne disse que ” tudo veio numa mesma sintonia entre eu e os animadores. Todos tínhamos bagagens muito parecidas, e Miyazaki era a mais clara e constante. Uma que utilizamos bastante é a que Miyazaki chama de ‘ma’: momentos entre cenas que, em teoria, não acontece nada, mas a paisagem que é mostrada diz muito. Outra coisa é que o mundo dos adultos é reto e achatado, ou claustrofóbico e barulhento. Já no ambiente do Aviador tudo é mais amplo e convidativo, com mais ângulos, como no jardim ou no telhado para as estrelas. É quase que uma montanha russa, um universo especial que só existe no filme”.
O diretor ainda confessou que foi quase uma missão impossível adaptar um livro tão importante para todos: “Tive muitas dúvidas de como adaptar o livro, todos que participaram do projeto, e foram quase 300 pessoas, falavam de quanto amavam o livro. Então não quis fazer uma adaptação, mas sim um tributo. O livro assume riscos, então eu também assumi. Fizemos um mundo à parte para as partes que mostram o Príncipe, mais calmo, e tudo feito com um misto de papel maché e stop-motion. Foi um trabalho de Jaime Calieri, inspirado no papel onde a própria história foi escrita, conectada com ilustrações originais de Antoine Saint-Exupéry. Vi os manuscritos originais, escritos à mão, num cofre em Nova York. Eram tão frágeis que tive que vestir luvas. Queria passar essa sensação de fragilidade ao mundo do Príncipe. Conversamos muito sobre isso, ver quais ideias estavam no original e quais não estavam. Como a ideia de mostrar o Aviador um personagem quebrado sendo ajudado pela menina inocente, ao mesmo tempo em que no livro o pequeno Príncipe estava quebrado e o Aviador o ajudava. Tudo estava conectado”. E Caruso complementou: “Não pareceu que o Pequeno Príncipe estava saindo do livro, mas sim que eu estava entrando nele”.
Osborne também exaltou a trilha sonora: “Trabalhei com Hans Zimmer, com quem já tinha trabalhado em Kung Fu Panda. O que gosto dele é que ele sempre tenta achar um som único para o filme, pois em algum ponto, trilhas de filmes podem parecer todas muito iguais. E Hans não queria que soasse como um filme típico, queria que ele tivesse um som próprio. Ele trouxe a cantora francesa Camille para ser sua colaboradora, ela tem uma voz muito pura e inocente. Ontem (a versão exibida no Anima Mundi) ouvimos a versão em inglês, mas ela também fez uma versão em francês. E ela é poliglota, então acho até que ela teria conseguido fazer uma versão em português (risos)”.
Caruso falou um pouco do convite para dublar o filme e como foi o processo: “Eu estava indo para Miami quando recebi o convite, e comprei o livro no aeroporto para me lembrar da história, havia lido há muito tempo. E tive um outro entendimento na história, chorava muito durante o voo (risos). E agora tenho netos, e sempre os ensino a conjugar o verbo ‘ser’ mais do que ‘ter’. E o processo da dublagem foi terrível (risos), nunca dublei, então não tenho as técnicas necessárias, passei a fazer tudo guiado pela emoção, aí fluiu. Não acho que o nome de um ator conhecido agregue algo ao fim, quer dizer, até agrega, mas muito pouco. Admiro muito os dubladores mais experientes que chegavam para dublar e faziam tudo parecer tão fácil, espero um dia chegar nesse ponto”.
Para finalizar, o ator e o diretor falaram um pouco da sequência final do filme (que não iremos colocar aqui). Caruso começou dizendo que “todos somos engolidos pela máquina em algum momento. O ponto que o filme apresenta é nunca esquecer da infância”. E Osborne complementou: “não vi muito dessa forma, ali quis expressar os medos mais escuros da garotinha, que também se espelham com os medos mais escuros de uma criança, a vida adulta, a mortalidade. Quando eu era criança, tinha muito medo de crescer. Afeta a todos. É com esse pesadelo que a menina tem que lidar. E isso dada a experiência de como o livro nos afeta, afeta a todos nós em algum nível diferente, dependendo da época da nossa vida em que o lemos”.
O Pequeno Príncipe conta com as vozes originais de Marion Cottilard e Vincent Cassel, e chega ao Brasil no dia 20 de agosto. Mas daqui a pouco chega a nossa crítica. Fiquem no aguardo!