Titãs acertou em cheio ao escalar um ator trans na série
A segunda temporada de Titãs deu um enorme e significativo passo em direção à representatividade ao escalar Chella Man como o herói Jericó. Talvez você não conheça seu nome (eu mesmo nunca tinha ouvido falar até então), mas Man é um infulencer digital surdo que ganhou notoriedade online ao documentar sua transição do gênero feminino para o masculino pelo seu Instagram e YouTube. Sim, Chella Man é transgênero.
Essa não foi a primeira vez que a DC na televisão se mostra na vanguarda de escalar atores. Nessa quarta temporada de Supergirl (atualmente no ar pela CW e aqui pelo Warner Channel) temos a heroina Sonhadora vivida pela atriz trans Nicole Maines. O meu ponto é que cada vez mais se mostra importante todo o tipo de público se ver representado nas histórias que gosta de acompanhar.
O cinema vem sofrendo péssimas críticas por ainda se manter conservador nesse tipo de abordagem, com no mínimo polêmicas declarações e escalações. Ultimamente tivemos Guy Ritchie, que dirigiu a versão live-action de Alladin, dizendo que estava tendo uma enorme dificuldade em encontrar um ator do oriente médio ou indiano que soubesse cantar e dançar. Gente, vai me dizer que um diretor de cinema nunca ouviu falar de Bollywood, uma indústria de cinema que já produz mais filmes que Hollywood (fonte: SuperInteressante). Pra acabar que, no primeiro trailer, vermos algo similar à essa indústria. Por favor, Ritchie, até Danny Boyle fez isso no seu “Quem Quer ser um Milinário?”. E com atores indianos.
E não quero incitar uma briga Marvel/DC mas não tem como não lembrar das críticas negativas que rolaram em Doutor Estranho quando escalaram a atriz inglesa Tilda Swinton para viver o que seria um personagem oriental, o Ancião, com a desculpa de que no filme ele seria um personagem atemporal, um título. A troca de gênero do personagem não é o problema, mas tá me dizendo que não poderiam manter a etnia do personagem? Até a fraca Punho de Ferro fez isso.
Hollywood tem a mania de premiar filmes que falam sobre a inclusão de gêneros, mas não promove essa inclusão na escalação de atores. Dá prêmios para filmes como Moonlight e Clube de Compras Dallas, mas não procura atores que tenham vivido tais histórias para trazer mais autenticidade em suas atuações. Ao escalar um ator transgênero e surdo para viver um herói mudo traz uma atuação única que dificilmente seria reproduzida por ator convencional. E que possamos ver mais escalações assim, fora do convencional, no cinema e na TV.
A primeira temporada de Titãs pode ser vista na Netflix.