Eu, empesa: a felicidade líquida
24ª Mostra de Cinema de Tiradentes
“Fala galera do youtube!” é uma frase que com certeza você já ouviu pelo menos uma vez na sua vida. O YouTube é um dos aplicativos mais utilizados pelas pessoas hoje em dia, e um dos conteúdos mais vistos e que sempre aparece como nas minhas recomendações são aqueles em que uma pessoa expõe as suas ideias sobre questões cotidianas e da vida. “Eu, empresa” filme de Leon Sampaio e Marcus Curvelo que segue a vida do jovem Joder que está buscando a fama no mundo dos Youtubers.
Joder não é feliz. Em todos os momentos parece uma pessoa frustrada com seus sonhos e a sua vida. Nos seus primeiros vídeos que não fazem tanto sucesso refletem sobre os temas da depressão e da frustração, do quanto Joder não é feliz com sua vida e o quanto nenhum de seus planos dá certo. Esse conteúdo não só não faz sucesso como gera uma pequena onda de insatisfação por parte dos seus conhecidos, inclusive com pessoas dizendo que ele estava exagerando e categorizando a sua tristeza como “white people problem” de forma debochada.
Mas ao observarmos a vida de Joder vemos que nada que ele possa ter vai ser mais significativo do que conseguir o sucesso de youtuber. As relações materiais e as conquistas do mundo real não significam nada para ele. Apenas podem ser vistos como um meio para que ele possa alcançar a sua verdadeira felicidade, os números e o engajamento virtual que as redes sociais dão.
A felicidade aqui não pode ser alcançada no mundo material, não pode ser conquistada por meio das relações humanas. O único caminho possível para a felicidade é dentro daquele mundo líquido que é gerado pelas redes sociais, dos engajamentos, compartilhamentos e comentários. Não há outra forma de felicidade que não essa.
Além de refletir sobre a liquidez das relações humanas o filme também reflete sobre sobre as fragilidades emocionais e o quanto as pessoas estão desesperadas em busca do sucesso profissional, chegando até a gastar o pouco dinheiro que tem e passando o resto do mês em desespero para pagar as contas apenas para se consultar com “Coachs” que promete mudar a mentalidade das pessoas e fazerem com que elas vençam na vida. Isso entra tanto na cabeça de Joder que em boa parte dos seus dialogos ele utiliza termos e frases muito comuns em pessoas que estudam ou se consultam com Coachs, como por exemplo, “eu to mudando o meu midset para conseguir fazer isso”. É interessante que assim como na vida real, no filme vemos que a ideia de meritocracia por si só não impacta em nada. a simples mudança de pensamento e de postura na vida não significa nada, afinal as relações sociais e de trabalho, assim como a conquista de sucesso em determinado meio é resultado de muitos fatores e não apenas do esforço individual. Isso ocorre também na vida de Joder, que quando alcança finalmente o sucesso na carreira de youtuber não tem tanto relação com suas qualidades, mas sim por um acaso das redes sociais.
Outro destaque necessário que temos que fazer sobre o filme é quando ele reflete sobre a vida das pessoas que trabalham em aplicativos, foi tão bem feito e tão brasileiro que merecia um filme a parte sobre isso.
“Eu, empresa” é um retrato da sociedade e das relações contemporâneas, um retrato do mundo e do Brasil dos últimos anos.