Mulher Oceano: a escrita como biografia
24ª Mostra de Cinema de Tiradentes
Lembro de ter lido em algum lugar há anos atrás que sempre que escrevemos alguma história estamos na verdade escrevendo sobre nós mesmos. Não sei dizer o quanto isso é verdade dado a minha pouca experiência como escritor de ficção, mas se levarmos em conta o filme de Djin Sganzerla “Mulher Oceano” a conclusão que tiramos é que sim, sempre que estamos lendo alguma obra estamos também lendo sobre a história de quem escreveu.
“Mulher Oceano” conta a história de Hannah (Djin Sganzerla) que vai passar um tempo em Tokyo para realizar uma pesquisa sobre o seu mais novo livro, do qual nada sabemos a não ser que tem alguma relação com o oceano. Aliás, nem Hannah sabe muito bem do que se trata, apenas têm uma grande obsessão com o mar desde que viu nadadores treinando quando esteve no Rio de Janeiro. Por se tratar de uma história que se passa no Japão me surpreendi o quanto esse fone trata sobre uma brasilidade. Desde as relações pessoais, passando pelas relações de trabalho, demonstra também as diferenças entre as classes tipicamente brasileiras. Além, é claro, das tradições culturais e religiosas brasileiras.
Há toda uma questão mística no filme, em muitos momentos vemos duas pessoas onde até o nome tem semelhança, Ana e Hanna. Durante o filme os flashbacks se confundem e se mesclam nos mostrando o quanto essas duas mulheres estão interligadas e também toda a relação de ambas com o mar.
Principalmente após a terceira parte, vemos a relação das duas com o mar se estreitando ainda mais, parecendo que não há mais uma Hanna ou uma Ana, ambas estão ligadas tão intrinsecamente com o mar que quase não há mais diferença entre elas.
Se quando lemos um livro estamos também conhecendo a história de quem foi o seu autor, será que ao assistirmos “Mulher Oceano” estamos também conhecendo um pouco mais da história de Djin Sganzerla? Não tenho certeza por não conhecer a autora, mas assistindo a sua obra essa foi uma curiosidade que foi despertada em mim.