Resenha: Chernobyl: O Filme – Os Segredos do Desastre

Resenha: Chernobyl: O Filme – Os Segredos do Desastre

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Grandes desastres e catástrofes na história costumam achar seu lugar nas telas do cinema, com a explosão do reator 4 na usina de Chernobyl, conhecido como uma das maiores catástrofes da humanidade, a história não é diferente. O acidente nuclear já foi representado de formas diferentes no audiovisual, como por exemplo, a minissérie da HBO “Chernobyl” (2019), que tenta retratar os eventos da forma mais verossímil possível, mesmo que isso no audiovisual seja quase impossível, já que aquilo que é filmado é feito a partir do ponto de vista de alguém sobre certos eventos. 

Em outros casos, busca-se falar sobre estes eventos através da fantasia e sem qualquer preocupação com o que aconteceu de fato, como é o caso do filme Chernobyl (2012), um filme found footage de horror, que se aproveita do incidente para criar um universo de monstros e uma atmosfera assustadora, partindo do ponto que a radiação que ficou na cidade de Pripyat foi responsável pelo surgimento de diversas criaturas prontas para matar qualquer curioso que pisasse na cidade.

No caso de “Chernobyl: O Filme – Os Segredos do Desastre”, ele fica no meio do caminho, não é um filme de terror sobre monstros radioativos, mas também não é um filme que busca representar histórias de pessoas reais e acompanhar o desastre nos mínimos detalhes, inclusive o longa deixa isto bem claro nos primeiros minutos ao dizer que apesar de ser baseado em um evento real, os personagens retratados são fictícios.

Durante o filme, foi impossível não estabelecer paralelos com outros filmes que também retratam tais eventos sobre uma ótica de personagens que estavam dentro da catástrofe, como  “As Torres Gêmeas” (2006), que no lugar de contar a história sobre o ataque de 11 de setembro, ele foca nas autoridades que foram ao World Trade Center para resgatar sobreviventes e etc., – vale notar que neste caso, os personagens retratados no longa foram baseados em pessoas reais. 

Este paralelo se dá, por “Chernobyl: O Filme – Os Segredos do Desastre” dedicar um bom tempo na construção do personagem principal, Alexey Karpushin, e o desastre mesmo só ocorrer nos 40-50 minutos de filme. O ato 1 do filme é todo dedicado à sua busca (quase uma perseguição, na verdade) por um amor antigo e a descoberta de ele ter um filho com essa mulher, que ficou desconhecido por ele durante dez anos. 

É compreensível essa construção de roteiro, já que por conhecermos um pouco o evento real, sabemos que o final será trágico, por isso, precisamos ter alguma ligação empática com o protagonista, para que assim o espectador tenha preocupação e seja abraçado pelo drama do filme. Que neste caso é o principal foco do filme, o diretor, que também é o ator principal, não poupa o espectador de elementos dramáticos, como música com violino, closes no rosto do personagem, câmeras lentas, para que ele consiga pelo menos algum choro durante a exibição do filme.

Apesar de compreensível, o romance e o drama de Alexey de tentar ser um pai presente “sobra” no filme como um geral, ele sempre recorre à essa subtrama para que o filme continue, porém em cada minuto que se passa do longa, ele fica cada vez mais desnecessário. Alexey é um personagem ambíguo, que reluta em aceitar seu destino de ser um dos “salvadores” do desastre de Chernobyl e só o faz porque seu filho está doente por causa da radiação. 

É uma trama muito pautada na “Jornada do Herói”, mas apesar de o filme gastar muito tempo com essa subtrama familiar, ela é pouco desenvolvida, e fica claro que é apenas um elemento de roteiro para gerar um potencial dramático, do pai ausente que busca redenção ao mesmo tempo que está sacrificando sua vida tanto por seu filho quanto pelo país. Entretanto, só a explosão do reator 4 e toda a catástrofe em Pripyat já é drama o suficiente para ser explorado, apenas o fato de o personagem principal ser um bombeiro que está cumprindo seu dever é o bastante para se construir uma narrativa de heróis, que o filme tanto bate nesta tecla, desde a sinopse até a sua versão final.

A prova de que essa subtrama é um elemento excessivo no filme se dá justamente pelo que realmente funciona na película, que é o retrato da catástrofe. Os planos escolhidos pelo diretor durante a sequência em que os bombeiros estão tentando conter as chamas na indústria, são muito bem filmados e impactantes. Todo este conjunto de cenas da segunda metade do filme que focam no desastre e nas equipes de resgate conseguem atingir o objetivo do filme, pois, eles são tensos e imersivos. Mesmo que alguns dos personagens ali não tenham nome e nenhuma construção prévia, vê-los morrer diante daquele caos torna a experiência profunda e dão a noção de que realmente este acidente nuclear foi um desastre, e muitas pessoas perderam a vida tentando proteger outras na contenção de danos. 

Os trechos do filme que acontecem dentro da indústria, quando a equipe liderada por Alexey precisa desesperadamente resfriar o reator, pois se não os danos podem ser ainda maiores para toda a Europa, também funcionam – pensando que estamos em um contexto de Guerra Fria, por isso, a União Soviética precisava lidar com isso o mais rápido possível. Neste momento o longa busca referências no terror, já que os corredores da usina são estreitos, a radiação deixa os personagens insanos e o perigo iminente deixa toda a experiência claustrofóbica, somado à um terror atmosférico com uma trilha sonora que busca trazer elementos industriais como sirenes e barulhos de metal batendo.

Quando busca retratar os horrores do desastre de Chernobyl é quando este novo filme, realizado a partir de uma visão dos russos, atinge o seu potencial máximo. Porém, ele perde muito tempo em uma tentativa, que apesar de fazer sentido, de dramatizar muito a situação, a ponto de ser piegas, na subtrama de Alexey e Olga, que durante o decorrer do filme fica cansativa e cada vez mais difícil de “comprar” o personagem principal proposto pelo longa. 

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