Em vários podcasts do Cinema em Série, discutimos o peso que o cinema traz para alguns filmes: Se todos os filmes merecem a tela gigante.… se existe dinheiro bem ou mau gasto com ingressos… e quando chegou a pandemia, novas dúvidas: O quê atrairia as pessoas de verdade aos cinemas, depois da enxurrada de streamings?
Aí vem “Duna” (Dune), de Dennis Villeneuve. Uma releitura da obra literária, um novo filme após a tentativa de David Lynch em 1984… e aproveita todos os pixels que só a sala do cinema poderia dar pra fazer jus, com um espetáculo visual pra um sci-fi denso.
Em “Duna” somos apresentados à Arrakis, um planeta responsável pela riqueza de todo seu sistema planetário. Por conta dessa exploração, divide os nativos e os regentes do seu sistema e é visto como o lugar mais perigoso daquela galáxia. E para governar Arrakis, o imperador ordena que a família Atreides, do Duque Leto (Oscar Isaac, de “Star Wars”) seja regente do planeta, o que inicia uma trama de intrigas, guerra por poder e descobertas no reino, que envolvem também sua companheira Jessica (Rebecca Ferguson, de “Missão: Impossível”) e intimamente seu filho, Paul (Timothée Chalamet, de “Me Chame Pelo Seu Nome”).
“Duna” implora por uma imersão que a sala de cinema proporciona. Ainda não é plenamente viável para os brasileiros encararem salas cheias, mas para aqueles que se sentirem seguros, é garantido um uso elogiável dos recursos das salas grandes. Toda ambientação do planeta Arrakis, seus intermináveis desertos e seu trabalho artístico são realmente invejáveis. Isso é um ponto ótimo com nome e sobrenome: Greig Fraser, diretor de fotografia, que também fez “Rogue One” (2016), “A hora mais Escura” (2012) e é o responsável por “The Batman” (2022).
Apesar de ser uma obra bem difundida na literatura, e já haver gerado um filme pregresso, a versão de Villeneuve tem algumas assinaturas que lembram outros trabalhos dele. No campo visual e de conceitos de naves, por exemplo, algumas se assemelham às de “A Chegada” (2016). No campo musical, o mestre Hans Zimmer volta com tons que recordam “Blade Runner 2049″ (2017), com quem também trabalhou com o diretor.
O filme desfila atores tarimbados pra compor sua história: Jason Momoa (“Aquaman’), Stellan Skarsgard (da série “Chernobyl”), Josh Brolin (“Vingadores”), Javier Bardem (“mãe!”), Chen Chang (“O Tigre e o Dragão”), Dave Bautista (“007: Spectre”), Zendaya (“Homem-Aranha”). A Warner Bros. não economizou no elenco, e até deu espaço razoável para cada um no filme, de maneira até surpreendente e muito diverso, como a Rapha Ximenes comentou em seu texto.
O filme foca muito na exploração de tudo que existe naquele ambiente e em seus mitos, e o uso de um elenco estrelado assim até se justifica para tal.
O problema é o que vem depois.
“Duna” já é conhecido como uma das histórias mais complexas já feitas na ficção científica. E veja: “complexa” não significa “difícil” ou “para poucos”. “Duna” tem camadas, e histórias bem definidas. Mas é uma rede densa de informações para a telona.
O livro de Frank Herbert (1920-1986), que mistura fantasia, religião, política e ciência, tem tudo isso também levado às telas. E para adaptar tantas facetas, dois nomes foram adicionados ao filme: O dos roteiristas John Spaihts (“Doutor Estranho”, “Passageiros”) e Eric Roth (“O Curioso Caso de Benjamin Button”, “Munique”). São estes dois, junto ao próprio Dennis Villeneuve, que adaptaram a trama para um filme. E o fizeram pensando em continuação, em mais de um filme.
Com esse intuito, de virar franquia, o filme dá acertadamente muito espaço para todo desfile de personagens que comentamos a pouco. Mas, por outro lado, dá chance também de estender o filme em mais do que o necessário para entreter, e assim corre o risco de se beirar o massante. Ainda que isso não tenha sido intencional (John Spaiths faz o mesmo estilo com seus outros filmes), 2h35 minutos de duração são torna este filme um pequeno desafio para quem não é tão ligado em ficções científicas, que os menos vidrados por sci-fi poderiam desejar assistir no conforto do lar, dando pause pra ir no banheiro e voltando pra terminar depois.
“Duna” traz um universo fantástico mas ainda com algumas amarras do cinema pré-pandemia: A ânsia por mega-franquias é uma faca de dois gumes, porque contrasta com a necessidade de fazer um filme empolgante logo de saída para tal; por outro lado, a obra não tem medo de ser inteligente e cheia de tramas…o que é bom porque não trata o espectador como burro, mas também o dá um público “nichado” como sua base de interesse.
No caminho, Dennis Villeneuve fez um filme que justifica a necessidade do cinema mais do que o “Tenet” de Christopher Nolan, mas a mão que dá uma obra de encher os olhos também podia preencher o coração do amante do cinema dando a ele um filme completo e não metade dele no fim de suas duas horas e meia de duração. No fim, “Duna” é bom mas poderia ser ótimo, e como disse Matheus Maltempi, nesse caso ser só “bom” não é suficiente.
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