Resenha: Homem-Aranha – Longe de Casa
Interessante, de um modo curioso, pensar que coube ao amigão da vizinhança e não aos maiores heróis da Terra a tarefa de dar fim à Fase 4 do universo Marvel. E mais curioso ainda notar que a trama básica de Homem-Aranha: Longe de Casa já estava pronta mesmo sem o diretor Jon Watts saber das catastróficas consequências de Ultimato e, ainda assim, conseguir fazer um filme de transição para esse futuro do qual não mais sabemos nada do que virá não esquecendo de colocar o cabeça-de-teia no centro dessas mudanças. Mais do que uma divertida aventura, é um filme de crescimento.
Ainda se recuperando das consequências da batalha de Ultimato, Peter (Tom Holland) só quer dar um tempo e se divertir, aproveitando as férias escolares na Europa com seu amigo Ned (Jacob Batalon) e quem sabe ter uma chance com MJ (Zendaya). Mal sabe ele que, ao chegar, Nick Fury (Samuel L. Jackson) o recruta devido a uma ameaça de uma nova realidade que pode destruir nosso mundo. Para impedí-la, como estão desfalcados de heróis, eles contam com a ajuda de um herói da própria realidade de onde vieram as ameaças, o Mysterio (Jake Gylenhall). Agora cabe a Peter, novamente, encontrar o seu lugar nessa nova realidade onde o mundo precisa de um herói e encarar o desafio.
Longe de Casa continua certos aspectos iniciados desde a apresentação do personagem em Guerra Civil, e ainda assim consegue dar muito espaço para Peter crescer e se desenvolver. O próprio fato da mudança de cenário é um bom exemplo disso. Eu sei que muito fã xiita vai chiar com coisas tipo “ah o Homem-Aranha é pobre, como ele vai pra Europa?”, mas é o tipo de pensamento que não vale a pena seguir, pois é o tipo de viagem que se faz como uma viagem de crescimento, um rito de passagem para a vida adulta, mesmo Peter aqui tendo apenas 16 anos. E Tom Holland, extremamente à vontade, consegue passar todas essas nuances do personagem, principalmente seu lado engraçado e desajeitado.
Ponto para a Marvel que aproveita a oportunidade de trabalhar com um herói mais “pé no chão” para nos mostrar as consequências com o homem comum no seu universo, vemos muito pouco disso em Ultimato. E mesmo sendo rápido e como gags durante o filme nos dá uma perfeita noção do que aconteceu após o estalo de Thanos. E ponto para o lado comédia do filme. Depois do clima pesado que foi o anterior, é com vir um filme tão leve e divertido como esse. E com momentos e diálogos hilários, Longe de Casa é extremamente divertido.
O elenco está ótimo, Zendaya tem seu papel bastante aumentado, agora sendo o interesse romântico do herói (é clichê, sim, mas necessário), Samuel L. Jackson ótimo como sempre e Ned continua um ar de frescor no filme, com ótimas piadas. Mas não é só de piadas que se faz um filme do Aranha e Jake Gylenhall é o responsável pela ação. Gosto de ver como a Marvel caminha na direção contrária do pensamento de adaptação que “tem que ser feito para cinema” e assume com gosto o ar de HQ. Até a cabeça de aquário do Mysterio funciona, não fica nada fora de contexto dentro do filme. Gylenhall está ótimo como o visitante de outra dimensão.
Repararam como eu citei “Ultimato” aqui? É por que Homem-Aranha: Longe de Casa é intrinsicamente ligado ao filme anterior. Talvez até a fase anterior, já que é bom vocês terem uma lembrança de Capitã Marvel também. Para evitar qualquer spoiler vamos simplesmente dizer que mesmo após Ultimato, a presença de Tony Stark ainda se faz bastante presente nesse universo Marvel pós invasão de Thanos. E mais do que cumprir o seu papel perfeitamente, Homem-Aranha: Longe de Casa estende um tapete vermelho para o novo momento que a Marvel entrará. Resta agora esperarmos para ver o que a Casa das Idéias nos reserva para os cinemas.