Resenha: Mulher-Maravilha
Impressionante que tantos heróis já tiveram sua chance na tela grande, inclusive mais de uma vez e num período curto de tempo, e tendo tantos anos desde a sua criação, a Mulher-Maravilha, uma das três grandes pontas da Trindade DC e a personagem feminina mais icônica das cultura pop, nunca tenha tido sua devida oportunidade no cinema. Aliás, são pouquíssimos os materiais que tiveram a personagem à frente (não estou contando sua participação em séries e longas animados). E apesar de tanta insegurança em torno dessa adaptação, Mulher-Maravilha se destaca como uma ótima introdução e o melhor material da atual DC Comics até o momento.
Diana (Gal Gadot) nos apresenta a sua história, desde menina em Themyscira (ou Ilha Paraíso, nome usado nos quadrinhos e aqui como em forma de utopia, mas ainda assim muito bem usado), muito curiosa e ansiosa para aprender a arte das Amazonas, mesmo contra a vontade de sua mãe, a Rainha Hipólita (Connie Nielsen). Agora uma mulher, durante um treinamento, Diana tem seu chamado à ação quando um piloto de avião cai na ilha e consigo traz os horrores da guerra. Desobedecendo sua mãe, Diana e o capitão Steve Trevor (Chris Pine) partem para acabar com o conflito, e ela tem seu primeiro contato com o mundo dos Homens. Em meio à guerra, Diana descobre o que há de melhor e pior no coração da humanidade.
O filme equilibra perfeito o tom mítico de Themyscira (muito bem retratada como uma mítica ilha da mitologia grega, com uma identidade mista de várias culturas mundiais) com o tom pesado da guerra, e isso é muito bem retratado pela ótima fotografia. Na ilha tudo é lindo e bastante colorido, enquanto fora dela, é cinza e sujo. A diretora Patty Jenkins dá uma ótima sensibilidade aos personagens (você tem um carinho por todos em igual) e tira ótimas atuações da Gal Gadot que, mesmo não sendo uma excelente atriz (e ocasionalmente forçando umas caras e bocas), equilibra perfeitamente a graça e a força de Diana. Sua parceria com Chris Pine está no ponto, e os dois dividem ótimas cenas e, mesmo nas mais cômicas, nada é gratuito, com o humor sendo usado de forma muito sutil. Pine em momento algum tenta roubar o filme pra si, mas também não é o “donzelo” em perigo e Diana também não se permite ser.
Desde a concepção do filme foi um ponto positivo usarem como fundo de pano a Primeira Grande Guerra, um período muito pouco explorado em filmes, e ele funciona muito bem aqui. As comparações com o primeiro Capitão América são inevitáveis, mas diferente da colega concorrente, a Marvel não faz juízo de valores mesmo com o personagem inserido no cenário de guerra, coisa que aqui é usado ao contrário, onde até mesmo Trevor tem um ótimo diálogo sobre a culpa da guerra, e a heroína se desestabiliza. Claro que acontecem coincidências fortes, como o súbito fim da guerra, mas nada que no geral comprometa a estrutura do filme como um todo.
Alguns efeitos especiais, principalmente na ação, são falhos mas, não chegam a prejudicar o geral do filme. A já famosa trilha tema que a personagem ganhou em Batman V Superman a acompanha aqui, muito bem executada. Quando Diana demonstra seu poder, a ação é excelente, lutas bem coreografadas e filmadas. O elenco faz um bom trabalho, e todas as interpretações parecem um pouco acima do ponto, mas é totalmente proposital, no melhor estilo “filmes matinês do anos 80/90”.
No fim, Mulher-Maravilha traz um ótimo elenco multi-facetado, equilibra bem humor, ação, aventura e se faz necessário em todos os sentidos, comerciais e sócio-políticos. Numa era em que filmes de super-heróis são vendidos como brinquedos de meninos, o Renascimento dos filmes da DC, tão em baixa até o momento, finalmente chega com uma mulher.