Resenha: O Homem do Futuro
Não é de hoje que o cinema brasileiro deu um tremendo gás em tanto em suas produções quanto nas parceiras que possibilitam tais produções, seja em uma simples comédia de troca de corpos entre casais ou retratando fatos de nosso cotidiano político e de nossa violência urbana. Mesmo que estas não sejam ideias originais, é inegável o tamanho crescimento dos nossos filmes. E O Homem do Futuro é uma produção que não deixa dever em nada aos filmes lá de fora.
O lance aqui é o seguinte: como a Helena que foi a catalizadora da destruição de Troia, a personagem da Alinne Moraes aqui também é a catalizadora para João “Zero” (Wagner Moura). O coitado nunca se recuperou de uma humilhação escolar provocada por ela, e acha que por tal fato vive uma vida miserável. Acaba que no meio de um experimento para encontrar uma nova forma de energia, ele abre um buraco no espaço-tempo e volta até a fatídica noite da humilhação, durante uma festa da escola. João decide então mudar as coisas a seu favor, para poder viver a vida que sempre quis.
O diretor Claudio Torres, numa entrevista que vi, disse corretamente que “o cinema sempre adora a fórmula do ‘e se’, do mundo imaginário, da realidade paralela que se abriria se tivéssemos a oportunidade de mudar um único fato em nosso passado”. E foi se utilizando desse conceito que o filme beira a uma versão brasileira de “De Volta para o Futuro”. Mas calma! Por mais que o filme lembre a trilogia, em especial as partes 1 e 2, não se trata de uma cópia e nem por isso se torna ruim. Pelo contrário, as cenas da festa e toda a reconstituição de 1991 são primorosas e muito divertidas. Ao invés de um Michael J. Fox tocando Johnny B. Good temos Moura com Alinne cantando “Tempo Perdido” (impressionante como uma música tão antiga se encaixa como uma luva no tema do filme). E apesar de achar que o filme é um tantinho longo, não chega a ser um problema e pelo menos não deixa nenhuma ponta solta seja no passado, presente ou no futuro que não deu certo.
No entanto, algumas coisas me incomodaram. Primeiro, a trilha sonora. Tudo bem ouvir “Tempo Perdido” várias vezes durante o filme, mas por várias vezes se repetem “Creep” do Radiohead (aqui cantada pelo próprio Moura) e “It’s the End of the World as We Know It” do REM. Às vezes, chega até a ser chato. Pode ter sido de propósito devido às indas e vindas de passado e futuro, mas eu não curti. E quanto ao elenco, Wagner Moura manda tão bem aqui quanto em Tropa de Elite, apesar de serem papéis totalmente diferentes. Alinne Moraes também está muito bem e Fernando Ceylão e Maria Luisa Mendonça também estão super engraçados, mas fica meio duro de engolir ela e Gabriel Braga Nunes como adolescentes, nem com toda a maquiagem do mundo.
O Homem do Futuro mostra a atual maturidade do cinema brasileiro, até lidando com temas que envolvem tantos efeitos especias (efeitos que aqui não ficam atrás de nenhum dos States) e com uma história simples mas que sempre desperta a curiosidade de todos nós. Ou vai dizer que você nunca quis mudar uma coisa em seu passado ou encontrar consigo mesmo?