Resenha: Projeto Gemini
O diretor Ang Lee teve a idéia de um filme de ação em 1997, onde colocaria um homem para enfrentar uma versão mais jovem de si mesmo. Após ter seus direitos comprados da Disney pela Skydance, Lee desenvolveu o filme e a tecnologia por mais de 20 anos, até que finalmente chegamos à Projeto Gemini (Gemini Man) onde, após ter passado na mão de vários atores de ação famosos da década, hoje coube a Will Smith (Beleza Oculta) trazer a história a vida. E apesar das falhas tecnológicas, Projeto Gemini acaba sendo um exercício de visual em um filme de ação que diverte.
O filme nos mostra Henry Brogan (Smith), um operativo do governo que faz missões secretas, mas após mais uma missão decide que é chegada a hora de se aposentar. Após receber a dica de um velho amigo de que suas ordens podem ter sido adulteradas, Brogan passa a ser perseguido pelos seus antigos empregadores. Mas como suas habilidades o tornam um alvo extremamente difícil, uma nova agência traz para a jogada a única pessoa capaz de executar essa missão: um clone de Brogan no auge da sua juventude e forma física.
Por ter sido concebido no meado dos anos 90, a trama do filme ganha um ar bastante nostálgico. Haviam vários filmes do tipo naquela época, não haviam novidades aí. A principal aqui é o uso da tecnologia 3D HFR, que torna a fotografia linda de se ver e é usada ao máximo aqui mas, como infelizmente são poucas as salas no Brasil que são equipadas com tal tecnologia, poucos terão a chance de apreciar a obra como ela realmente deve ser vista (Dica: a sala XPlus do UCI aqui no Rio foi onde eu vi e está passando o filme nesse formato, aproveitem). E mesmo assim ressalto que, mesmo sendo uma experiência incrível (muito melhor do que a versão HFR de “O Hobbit” quando veio para o Brasil), nos olhos acostumam ao efeito provocado e a novidade acaba por perder a graça em pouco tempo. O que nos leva à segunda e talvez maior atração da fita, mostra Smith contra Smith.
E ao mesmo tempo que a tecnologia ajuda a criar uma reprodução perfeita do astro nos seus saudosos anos de “The Fresh Prince of Bel Air” (tanto na face quanto na compleição física de Smith, visivelmente mais esguio quando mais jovem do que seu atual “eu” malhado). Pois o filme mostra o embate entre os “Smiths” em 3 grandes momentos, e infelizmente dois são à noite ou no escuro, mascarando ao máximo os efeitos de rejuvenescimento. Mas em momentos de destaque e de takes fechados, ainda há um incômodo visual, algo com o movimento labial e os olhos vazios que não passam a sensação de verdade. Mas, para efeito de criação do filme e argumento para a história, você acredita que de fato há um drama ali envolvendo o jovem e esquentado Smith contra o experiente Smith. A própria trama do filme, que coloca o velho, ao se ver novo, se questionando pelas decisões que tomou que as que abdicou em sua vida para chegar àquele momento e aconselhando sua versão mais nova a não tomar as mesmas decisões que ele tomou. A famosa máxima “o que você diria ao seu eu mais novo se tivesse a chance”; E nisso o filme se mostra mais do que a história de “assassino arrependido”.
A ação é impecável, com ótimas cenas de perseguição e lutas, mesmo as filmadas no escuro, e se utiliza bem das locações em que foram filmadas, em especial a sequência de Cartagena, com perseguição em pleno trânsito e tensão levada ao máximo. E apesar do elenco ser apenas satélites orbitando Smith, ninguém está ali de forma gratuita. Em especial destaco a relação de Brogan com a agente Danielle Zakarewski (Mary Elizabeth Winstead) que, mesmo com a nítida tensão sexual entre as partes, não cai no clichê do par romântico.
Projeto Gemini seria um filme que, na época em que foi concebido, talvez fosse apenas mais um. Mas hoje, trazendo esse ar de filme antigo para uma época em que os filmes de ação estão cada vez mais em falta, ele se destaca como um ótimo Blockbuster que ainda tem tempo para gerar alguma reflexão filosófica.