Resenha: Rampage – Destruição Total
Que o ator Dwayne ‘The Rock’ Johnson possui um carisma transbordante, isto todos já sabem. Chegamos a gravar um podcast para o “Cinema Em Série” especialmente sobre artistas que arrastam multidões para vê-los na telona, antes mesmo de anunciado do que se trataria a história de seu filme. E The Rock com certeza é um destes. Em geral, está no topo da lista desta categoria. É engraçado isso, pois, em geral, ele não muda muito de um personagem para outro, com a maioria de seus papéis explorando a estamina de seu porte colossal, de seu ‘physique du rôle’, salvo raras exceções que tentam agregar alguma nova vulnerabilidade com que nos identifiquemos sob aquela rocha. Uma simples manchinha na armadura dourada ou um calcanhar de Aquiles, mesmo o mínimo possível, já costumam ser o suficiente para fazer a plateia voltar para o próximo.
E seus músculos em geral a rivalizar ou mesmo superar os do mestre fisiculturista mor Arnold Schwarzenegger, em seu auge, são usados para bater de frente com obstáculos cada vez mais impossíveis, adequando-se ironicamente ao ditado “água mole, pedra dura, tanto bate até que fura”. Já enfrentou o deserto egípcio, exércitos de mortos-vivos e alienígenas, desastres naturais, carros velozes e furiosos… alguns destes embates realizados pelo mesmo diretor, como Brad Peyton, com quem Dwayne possui uma receita de bolo bastante rentável, até que agora ambos voltam com “Rampage: Destruição Total” – mais uma adaptação de videogame na carreira do The Rock.
Um risco considerável, levando-se em conta que mesmo o magnetismo do ator não conseguiu salvar a adaptação de outros games, como “Doom: A Porta do Inferno”, fracasso total. Aliás, como a maioria dos jogos eletrônicos levados para a telona dos cinemas, com fiapos de roteiros mal construídos, apenas para tentar fazer o espectador vivenciar a mesma adrenalina de quando tem o controle do console em suas mãos. Este é um filão que ainda não se encontrou em Hollywood, mesmo diante do sucesso que as adaptações de histórias em quadrinhos andam alcançando, por analogia de público-alvo similar: o mundo high-tech e nerd que Bill Gates e Steve Jobs ajudaram a transformar na geração Y.
Talvez surpreenda revelar que “Rampage: Destruição Total” não seja um fracasso total, nem de público nem de crítica, pois apesar de render um resultado fraco, diverte e entretém. E muito por conta de Dwayne Johson. Claro, ele não vem sozinho. Está acompanhado da indicada ao Oscar Naomie Harris (“Moonlight – Sob a Luz do Luar”), Jeffrey Dean Morgan (o famoso vilão Negan de “The Walking Dead”), e… E as criaturas! Afinal, a grande graça do game original eram justamente os monstros destruírem cidades inteiras, sendo que o jogador controlava justamente quem destruía! Mas como, então, um filme pipocão para toda a família conseguiria adaptar tamanha destruição, sendo que os gigantes jamais passariam como heróis do filme nestes tempos politicamente corretos?! A destruição em si nem seria o problema, afinal, Hollywood destrói o mundo como passatempo, vide a tradição de filmes-catástrofe. Mas a selvageria seria a questão, pois as destruições em geral são frias, impessoais ou naturais, o que impediria com que houvesse a reivindicação de uma vontade livre e consciente do prazer de destruir!
A solução foi colocarem em Dwayne a responsabilidade de cuidar melhor de seu ‘animal de estimação’, na verdade, melhor amigo, já que um cara tão forte e brilhante como ele neste filme ainda possui problemas emocionais de sociabilidade para humanizar o personagem. E este ponto fraco será testado quando seu gorila favorito do parque de preservação da vida animal onde trabalha acaba contaminado por uma experiência do mal que faz com que o bicho cresça em tamanho e agressividade. Ainda assim, como o gorila foi o escolhido para ser o protagonista bonzinho dos três monstros tradicionais do jogo, nota-se claramente um tratamento especial em seu desenvolvimento, pois ele não cresce tanto quanto suas contrapartes nem se torna tão cruel, mesmo quando descontrolado pelo plano dos vilões que querem esconder as provas de seus experimentos à la “A Ilha do Doutor Moreau”. Tudo isto ainda estaria OK, caso o filme desse tempo suficiente para trabalhar melhor a relação Dwayne-Gorila… Não é por que a criatura começa a ser unicamente feita em computação gráfica a partir de determinado momento que seria impossível conseguir identificação, vide os personagens interpretados por computador pelo ator profissional Andy Serkis, o Gollum de “O Senhor dos Anéis”, o King Kong do filme homônimo e até o César de “Planeta dos Macacos”. Mas o tempo de desenvolvimento é distribuído de forma equivocada entre as cenas de ação, entre o gorila se tornar vilão com os seus pares e depois virar a casaca de novo, deixando a narrativa desequilibrada pro lado de The Rock.
Por fim, a parte da destruição da cidade também não é tão grande assim, e a motivação gerada para tanto ainda não convence. Pelo lado positivo, a relação de Dwayne e Naomie com Jeffrey Dean Morgan dá certo, e eles quase roubam as cenas das criaturas às vezes. Pena…pois o filme tinha potencial, e, pelas bilheterias, não naufragou, garantindo que deva se ter sequências… O que já é um grande salto para as malfadadas adaptações de videogames que ainda não acharam seu caminho de sucesso, mesmo pisando com os pés firmes e fortes de Dwayne ‘The Rock’ Johnson.