Resenha: Tenório e os Sonhos do Judô
As olimpíadas e paraolimpíadas de Tóquio (2020/21) movimentaram a internet. Porém, se rebobinarmos nossa própria linha do tempo e voltarmos ao final das olimpíadas de 2016, podemos ver algumas cenas de “Tenório e os Sonhos do Judô”, quando paratletas como Antônio Tenório foram convidados a participar de um treino com o time japonês de judô para se prepararem para as olimpíadas de Tóquio.
A viagem ao Japão aconteceu em meados de 2018 e acompanhou seis paratletas: Antônio Tenório, Rebeca Silva, Wilians Araújo, Luan Pimentel, Núbea Lins, Thiego Marques, Arthur Silva e Lúcia Teixeira em uma viagem até o Japão.
A estrela principal do longa é o medalhista Tenório, que dá nome ao documentário e que desde o começo mostra, brevemente, sua trajetória até ali. Porém a todo momento são incluídas as histórias dos seus colegas da Seleção Paralímpica Brasileira de Judô.
O filme foi lançado em setembro, mês do Dia Nacional da Luta da Pessoa com Deficiência, mas nessa viagem e no treino eles não enfrentaram apenas as barreiras físicas, como também tiveram dificuldades com a linguagem, o convívio, a viagem em si, entre outros. Mesmo assim, eles estavam obstinados a impressionar o time japonês e superar cada desafio proposto.
É inegável o carisma de todos os paratletas, cada um com sua personalidade e história de vida. O roteiro e direção de Eduardo Hunter consegue envolver o espectador dando enfoque para vários aspectos da viagem e do treino, mostrando os obstáculos gerados pela deficiência, e também o esporte e a diferença cultural. Um ponto muito importante que foi ressaltado é como nossa visão sobre a cultura japonesa é diferente do que realmente é, podemos ver isso em um treino onde o mestre coloca músicas para os atletas relaxarem e ficarem descontraídos. Isso tira aquele pensamento que eles são rígidos e sérios.
Outro ponto positivo foi a trilha sonora escolhida por Ricardo Dias Gomes e Jonas Sá, que ambienta muito bem o filme. Assim, complementando muito bem os sons direto (de Davi Paes) de cada lugar por onde os nossos personagens passam. Em todos os filmes é muito importante ficarmos atentos a todos os sons presentes nele, mas em “Tenório e os Sonhos do Judô” é necessário entendermos como o som e a trilha sonora fazem toda a diferença. Pois, nós estamos encarando a realidade do elenco principal, que depende muito da audição. Além do filme ter sido pensado para ser assistido por pessoas com deficiência visual, com áudio descrição e legendas descritivas para deficientes auditivos.
A direção de fotografia de Alexandre Ramos aliada com a edição de Tainá Diniz e Moema Pombo formam a aliança perfeita para nos encantar ainda mais com a viagem. Seu ponto forte foi nos inserir em cena durante uma estrada curva, íngreme e com uma forte neblina, assim, com o áudio das suas histórias ao fundo conseguimos sentir a insegurança e incerteza de não poder ver o que está no nosso caminho. Sendo tanto uma metáfora para o caminho físico que a van percorre fazendo curvas acentuadas, como também a trajetória da vida e do nosso futuro.
“Tenório e os Sonhos do Judô” é uma jornada íntima e divertida, nosso guia e narrador Tenório é único, experiente e delicado em cada palavra. Após assistirmos o longa, temos a certeza que a nova geração do Judô está sendo bem representada e se revela inspiradora, abrindo os caminhos para que a cada dia mais pessoas tenham oportunidades. O filme está disponível para assistir no Globoplay, VivoPlay, NetNow e OiPlay.