Resenha: The Lodge
Veronika Franz e Severin Fiala entraram no nosso radar principalmente por terem sido os responsáveis por uma das melhores obras do cinema de horror dos últimos 10 anos. Diretores de Boa Noite, Mamãe, lançaram o longa The Lodge um filme de horror que mescla isolamento, paranoia e vingança.
Após terem que lidar com o suicídio de sua mãe Laura (Alicia Silverstone), Aidan (Jaeden Marteli) e Mia (Lia McHugh) vão passar o Natal com o seu pai Richard (Richard Armitage) e sua noiva Grace (Riley Keogh) na casa da família que fica nas montanhas. Quando o Richard tem que voltar ao trabalho, coisas estranhas começam a acontecer na casa colocando a prova a sanidade de todos.
O Terror como forma de discutir traumas
O horror é, talvez, o melhor gênero para se discutir traumas. Nos últimos anos vimos esse elemento presente em muitas obras do gênero, como por exemplo, Hereditário e Midsommar, ambos do diretor Ari Aster, O Babadook e The Nightingale da diretora Jennifer Kent e o próprio Boa Noite, Mamãe de Veronika e Severin. The Lodge não foge à isso e mostra duas crianças enfrentando o trauma da separação dos pais e, logo em seguida, do suicídio da mãe.
Dá para notar a característica dos diretores nesse filme, eles utilizam a mesma linha do seu filme anterior. A tortura desenfreada de duas crianças contra a sua figura materna, em Boa Noite, Mamãe isso acontece fisicamente e em The Lodge psicologicamente. Em ambos os filmes, você vai percebendo que as coisas estão passando dos limites e nada e nem ninguém conseguirá impedir que as pessoas saiam daquela situação sem serem machucadas.
Na história as crianças se utilizam do passado de Grace para colocá-la em uma situação extremamente delicada, usando o que conheciam do passado dela com uma perigosa seita religiosa, em que na experiência só ela havia sobrevivido, como uma forma de confundir a cabeça dela. Além da fragilidade causada pela situação ela ainda tem os seus remédios roubados e a única coisa que demonstrava para ela que havia superado todo o trauma que ela viveu na seita foi tirado dela de uma forma cruel. Todo o caminho percorrido por ela por conta da vingança das crianças, desestabiliza e faz com que ela mergulhe na insanidade.
O enredo é interessante, a forma que as crianças decidem fazer sua vingança é inteligente e faz sentido dentro da história, o que atrapalha é que em determinado momento a história começa a ficar previsível e a imersão que o filme te colocou no início é perdida. Outro ponto em que o filme erra é nas escolhas de narrativa, ele coloca elementos que poderiam ter sido trabalhados de uma forma mais interessante, mas abandona ou coloca apenas de uma forma momentânea e acaba não fazendo muito sentido , como por exemplo, a maquete da casa onde ocorre os acontecimentos, simplesmente está ali e não tem o valor narrativo que você espera dela.
Para mim foi um pouco difícil separar o filme do momento em que vivemos hoje. A sensação de prisão que o isolamento da família passa por conta da nevasca dialoga com o momento atual de isolamento pelo COVID-19, mesmo que essa não tenha sido a intenção dos cineastas. Ver os personagens presos dentro de casa, impedidos de sair pelo perigo que está lá fora – no caso do filme o gelo, no nosso o vírus – é semelhante ao que vivemos nos dias de hoje em todo o mundo.
The Lodge tem bons momentos e é até interessante de se assistir, mas nem de longe cumpre as expectativas criadas pelo nome dos diretores.