Resenha: Top Gun: Maverick

Resenha: Top Gun: Maverick

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Entretenimento. Essa é a palavra pra definir assistir “Top Gun: Maverick”, 35 anos depois do primeiro filme ser lançado. É verdade que ele vem aproveitando uma (feliz) onda de coisas referenciadas nos anos 80, mas aqui é diferente: A Paramount lançou um filme que não é só refencial, também divertido e emocionante antes de qualquer coisa.

É assim que chegamos à esse reencontro com os “Ases Indomáveis” de 1986: No novo filme, uma nova missão está para acontecer na marinha: Destruir uma ameaça nuclear inimiga, escondida entre colinas onde drones não são suficientes e só uma extrema habilidade humana pode chegar. Os melhores entre os melhores pilotos de uma nova leva de ases estão lá, mas necessita de um professor para lidarem com os clássicos caças F-18. E quem vem a ser o instrutor é Pete “Maverick” (Tom Cruise), que tem fama de lenda mas ainda segue, tantos anos depois, desacreditado pelas altas patentes das forças armadas.

História simples, mas bem colocada

A saudade de um filme curto bate forte ultimamente. E Top Gun tem uma história redonda em suas 2h11 de duração: O filme distribui bem os sentimentos ao longo do texto. O filme tem tempo pra ser nostálgico quando quer, passar pelos dramas pessoais do Maverick e suas questões, passar pelo amor e bela diversão sem ligação direta com a história e cair na ação esperada (que convenhamos, também está incurtida na nostalgia). Tudo encurtido de um sentimento oitentista.

Ser simples e direto num tempo onde meia-Hollywood quer ser sombria e realista casa muito bem pra quem assiste desacelerar um pouco e curtir só uma história legal. E ser simples de roteiro ajuda “Top Gun” a botar elenco e direção pra brilhar. Joseph Kosinski (também diretor de “Oblivion” e “Tron: O Legado”) teve a felicidade de filmar um elenco que parecia bem à vontade nos papéis, além de usar as câmeras dentro dos aviões para sequências bem empolgantes, sem zack-snyderização de cenas, só ação direta e efeitos práticos em muitos takes.

O roteiro desta versão é assinado por Peter Craig, que também já fez Bad Boys pra Sempre e participou de “The Batman”. O principal mote do enredo aqui é a reunião dos mais velhos com os mais novos, o antigo com e/ou contra o novo. E isso não deixa de ser um poquinho brincar com o que é a proposta deste novo “Top Gun”: Juntar as gerações de pais que amam o filme com o desejo de fomentar uma nova geração de fãs.

Elenco jogando como time

Das coisas mais legais de ‘Top Gun: Maverick’ é como o elenco joga junto pelo filme. O principal continua sendo Tom Cruise, mas as trocas entre Maverick e Rooster (Miles Teller, de “Whiplash”) são bem intensas durante o filme. Teller dá vida ao filho do antigo companheiro de Maverick, que morreu no primeiro filme (Anthony Edwards, da série “Plantão Médico”). Existe uma carga histórica entre os personagens que vai ganhando interesse de quem assiste, e anda muito bem.

Também há de se destacar a química entre Tom Cruise e Jennifer Connelly (“Alita”). Sem fazer explicação de origem, a personagem dela é um romance mal-resolvido de Maverick que não vive à sua espera, só vive. Mas quando estão juntos, é pura magia.

Ainda vão outros contribuindo na história: John Hamm (“Mad Men”), Charles Parnell (“Transformers”), Danny Ramires (“Falcão e o Soldado Invernal”), Glenn Powell (“Estrelas Além do Tempo”) , Monica Barbaro (“The Good Cop”)… e finalmente, uma volta que teve emoção: A de Val Kilmer ao papel de Iceman, antes rival de Maverick, agora como um grande amigo dele e “desfazedor-de-caquinhas-que-ele-deixou-pelo-caminho”. A volta de Kilmer é muito válida no filme, não só pela nostalgia do primeiro, mas porque o ator enfrentou um câncer em 2017 que limitou sua capacidade de fala. A limitação não foi barreira pra o retorno ao personagem, e entrega uma bonita cena no andar do filme.

Todos estes componentes criaram uma força, que assim como o personagem de Tom Cruise quer, formam um time.

Uma volta para o cinema que empolga

Assim como o Alex comentou na resenha de “Doutor Estranho 2”, nem todo filme precisa mudar a história da arte: Ser divertido já é meio caminho andado. E apesar das controvérsias pessoais de Tom Cruise, ele é um ator que é apaixonado por fazer filmes – às vezes até abusando um pouco do limite, é verdade, mas sempre um apaixonado. Mas talvez aqui não exista uma coisa que lá a Marvel/Disney tem por meta: A ânsia de fazer bilhão na primeira semana ou ser considerado um fracasso. “Top Gun: Maverick” é uma peça de indústria sim, mas lembrou de ser uma história legal de se ver também, e isso tanto para o jovem que nunca esteve nem aí para o filme original ou pro adulto que lembra do que estava fazendo quando passou pela primeira vez na TV.

É um filme que não sofre da ganância de querer ser épico. Um grande problema do cinema de bilhões atual é de se vender como grandioso e duas semanas depois fica completamente descartável, em maioria por ser longo e chato. “Top Gun: Maverick” tem aquele cheiro de fita VHS que o adulto lembra, de música antiga, de nostalgia… mas que dá vontade de reassistir, dar play duas, três vezes quando sair no streaming. E só lembrando: Ter o dom de ser reprisado várias vezes é o antigamente sustentou muito filme que é tido como clássico hoje, e que talvez muitos filmes de hoje não conseguirão chegar perto de ser.

As maluquices de Tom Cruise entregam um filme de ação, e é ação que se espera dele. Então, todo mundo ganha sem esperar ser épico, sem medo de parecer cafona ou desesperado por ser realista ao extremo. Mas ainda assim, é Entretenimento. Puro. Que bom.

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