Escondido em uma história cotidiana, filme traz um inteligente thriller dos tempos atuais
O cinema de suspense tem surpreendido com o que se propõe. Na contramão dos blockbusters que em sua maioria vêm de livros, quadrinhos ou histórias já contadas, o gênero surpreende com tramas curiosas, e até, cotidianamente inusitadas. E isso vale ser comemorado no o cinema.
Em “Buscando…”, temos um pai e seu contato com a filha de 16 anos que passa muito tempo fora de casa. Esse contato é todo mantido via internet. Porém, quando a garota misteriosamente desaparece, ele precisa iniciar a busca por sua menina, e acaba descobrindo quem nem tudo nela é o que ele pensava ser, ou quem ele achava ser.
O filme é tecnicamente simples em sua execução. Não temos efeitos grandiosos, ou tomadas de câmeras gigantes. Todos os cortes são feitos através de telas de computadores, TV’s ou celulares. Isso poderia dar a cara de “Algo pobre”, mas com uma olhada mais justa, se enxerga quão próximo de nós está esta história: Da forma como é visto pelo pai poderia também ser a vida de qualquer um de nós.
E nesse desafio de se fazer simples é que temos as sutilezas do filme, pode-se sentir as pessoas pelas mensagens que foram digitadas e apagadas sem enviar, o trato com a tecnologia dos mais velhos e mais novos (O pai usa um computador com Windows XP, enquanto a filha tem um Macbook à mão) e a falsa sensação de proximidade que a tecnologia traz, quando aquele homem que vivia em contato com a filha acaba descobrindo, com o espectador, que está completamente vendido naquela situação, sem ter acesso de verdade à ela. Uma das cenas que são o marco desse sentimentos não-ditos é quando em uma das cenas, David, o pai exclui um vídeo do computador. É esquisito de se ler a respeito, mais tocante quando se vê no filme, porque o sentimento é nítido.
Há que se dar muitos méritos em “Buscando…” à visão do diretor Aneesh Chaganty, que em sua vida pessoal sempre esteve às voltas com tecnologia. O diretor estreante nasceu em Redmond, Washington, cidade americana que abriga as sedes da Microsoft e Nintendo. Aos 23 anos, Chaganty lançou um curta-metragem sobre o Google Glass, que o fez ganhar notoriedade à época o levou até a sede da Google, onde trabalhou com comerciais da empresa por dois anos.
Essa experiência doméstica se faz valer no filme. Hoje, com 27 anos, o diretor pode falar de temas tão atuais quanto ele mesmo. Enquanto o suspense corre na trama, coisas sutis da vida digital surgem, como reações das pessoas na web, a auto-promoção, pré-julgamentos e complascência de pais e filhos. Tudo isso é incorporado ao roteiro de maneira muito atual e sem pieguices.
O longa tem uma mistura de experiência com novidade entre quem o fez. A direção é do estreante Aneesh Chaganty, mas o filme tem produção do experiente Timur Bekmambetov, (diretor de“O Procurado”e do remake de Ben-Hur). O elenco é jovem, mas tem protagonistas experientes, como John Cho (o John de “American Pie” e Sulu de “Star Trek”), além de Debra Messing (da série “Will & Grace”). Cho é David, o pai, e Messing é Vick, uma detetive que tenta solucionar o caso.
A relação do pai com os demais personagens é bem-feita, com as reações nítidas e plausíveis para um pai desperado. O clima criado pelo filme tem jeito de moderno, ao mesmo tempo que flerta com suspenses como “A Bruxa de Blair” (1999) e “Enterrado Vivo” (2010).
“Buscando…” merece notoriedade por ser totalmente bem-encaixado nos tempos atuais. O roteiro é interessante para pais atuais e prima por ensinar a ser lento nos julgamentos, mas atento aos detalhes. Nisso tudo, há de se aplaudir que a mesma simplicidade que o fez passar quase despercebido seja inversamente proporcional à mensagem grandiosa que está em suas entrelinhas.
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