Filmes que mexem com a memória, com a lembrança e, principalmente, com a perda dela, são os que mais me tocam. Dos filmes que foram lançados no ano passado, o meu favorito foi “Relic”, que trata exatamente da deteriorização por conta de uma doença e de como isso transforma a vida das pessoas em volta. “Meu Pai” (“The Father”), filme de Florian Zeller e mostra como é a mente de uma pessoa que está passando por esse processo em que suas memórias vão, aos poucos, se apagando.
Protagonizado por ninguém menos que o veterano do cinema Anthony Hopkins, com um personagem que carrega o nome de Anthony e é pai de Anne (a também ótima Olivia Colman) e conta a história da vida dessa família composta pelos dois, onde o pai está enfrentando a degeneração da memória e a desorientação decorrente na vida de Anthony. Vemos que Anne está preocupada com o que poderá fazer com o seu pai, já que pretende se mudar e continuar com a própria vida com o seu novo namorado.
Um primeiro ponto a ser destacado nesse filme são as escolhas estéticas feitas por Florian Zeller. A desorientação causada pelos planos, diálogos e cenários faz não só os personagens se sentirem perdidos com a situação, mas nós, enquanto espectadores também. Em muitos momentos, assim como Anthony, nos vemos perdidos no meio de tantas informações e buscamos assim como ele entender aquilo que estamos presenciando.
Além das mudanças repentinas de planos, das montagens rápidas que fazem de uma cena para a outra mudar completamente o sentido daquilo que estávamos vendo, as mudanças de personagens nos deixa ainda mais confusos e desesperados, chega a nos deixar com uma imensa sensação de horror e medo.
Basicamente a cada nova imagem temos que desconsiderar tudo que vimos antes. É quase como um jogo da memória, mas a cada elemento novo, todos os outros já conhecidos se embaralham, misturando toda e qualquer informação anterior.
Todos esses elementos da composição dos planos, da montagem e de como a narrativa se desenrola faz com que o público se identifique ainda mais com a história que está vendo. Ficamos tão desorientados quanto os personagens que estamos assistindo.
Esse é mais um dos méritos de Florian Zeller, ele consegue nos fazer sentir todo o desconforto possível pela perda de memória de Anthony, mas não perde, em momento nenhum, o controle da história. Ao contrário, a única coisa que faz sentido em tudo que estamos vendo é a forma que Zeller constrói sua narrativa.
Não posso encerrar essa crítica sem mencionar que a história proposta pelo diretor só faz sentido e só tem êxito graças a atuação de Hopkins e Colman. Os dois tem uma espécie de magnetismo tão grande que quando estão na tela é impossível não prestar atenção. Como espectador ficamos vidrados na tela e na atuação dos dois tentando identificar os elementos que podem fazer sentido naquilo tudo.
“Meu Pai” se tornou o filme que mais gostei e um dos que mais me tocou da lista de indicados ao Oscar desse ano. É de uma sensibilidade tamanha, confesso que foi muito difícil não me emocionar com tudo que vi.
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