Resenha: The Boys (1ª Temporada)
Em tempos em que os super-heróis nunca estiveram tão em alta, é muito bom ter um material como The Boys, que mostre o outro lado da moeda. Afinal, quando pensamos em super-heróis, adjetivos como “altruísmo”, “sacrifício” e frases clichês como “proteger os fracos e oprimidos” pulam na nossa cabeça de imediato. Normal, afinal, fomos ensinados a vê-los dessa forma. Deuses perfeitos que nos salvam das nossas piores facetas e estão acima de nós, zelando por nós. Mas e quando eles, que deveriam nos salvar, são os mesmos que causam os piores problemas e tragédias para nós?
Com essa premissa nós conhecemos Hughie (Jack Quaid), um pacato cidadão que leva uma pacata vida ao lado de sua pacata namorada, até que ela é acidental e brutalmente morta na sua frente por um dos Sete (um análogo à Liga da Justiça), e ficou completamente traumatizado, querendo justiça pela moça. Aí aparece Butcher (Karl Urban), que lhe oferece não só a chance de descobrir como os ditos heróis realmente são, mas também se vingar pela morte de sua amada. Ambos, junto do Francês (Tomer Capon) e Leitinho de Mãe (Laz Alonso), começam seu plano para revelar a verdadeira natureza dos heróis ao mundo inteiro.
Seth Rogen e Evan Goldberg estão se especializando em “adaptações de HQs de Garth Ennis para a TV”, já que ambos também produziram Preacher, com altos e baixos devidos aos temas pesados que a HQ aborda. Aqui houve mais acertos. A dupla se uniu à Eric Kripke (criador de Supernatural) e trouxeram uma espécie de “resumo bem elaborado” da HQ, o que torna certos arcos muito mais interessantes e melhores trabalhados. Sob certos aspectos, a adaptação melhora e muito a HQ, mesmo diminuindo o teor das transgressões cometidas pelos “supers” mas, como se trata de um material segmentado para streaming, e não TV aberta, podem brincar à vontade com o fator violência, e a série vai com tudo nisso e em outros tópicos mais perturbadores, como abuso sexual, religião e drogas.
Os personagens são bastante cativantes e cada um tem seus arcos e motivações bem explicadas durante os 8 episódios da temporada, Urban abraça o lado cartunesco da história e está excelente no papel principal. Mesmo os que vão crescendo durante ela como a relação Francês/Fêmea (Karen Fukunaga) e a história que começa entre Hughie e Starlight (Erin Moriarty); E a própria tem um ótimo arco de se acompanhar, já que ela é o contraponto ao mundo já estabelecido dos heróis, a novata. E pelo lado dos heróis tudo é muito bem construído, a organização, as negociatas, como o “super-herói” foi transformado em um negócio altamente rentável. Destaque para Queen Maeve (Dominic McElligott), que teve sua personalidade drasticamente mudada, mas encaixa melhor na trama, pois a humaniza e a torna um contraponto à Starlight, como uma visão do que pode acontecer à ela no futuro, e Homelander (Antony Starr) que equilibra perfeitamente momentos de tensão disfarçando-os com um sorriso irônico de quem não liga a mínima para àqueles que deveria salvar. A cena do avião no episódio 4 chega a dar nervoso.
Com tudo isso e um final com um gancho ótimo para continuar na sua (já confirmada e em produção) próxima temporada, e por trazer um tema que nos faz olhar para o outro lado desse universo que está tão em voga, The Boys é uma série necessária para quem gosta do gênero. É uma série que leva tudo para o extremo, é violenta, subversiva e super divertida. De longe, um dos materiais mais interessantes que pintou este ano.