A Lenda do Cavaleiro Verde (The Green Knight) já impressiona pelo que ele não é. De cara ele já anuncia que não é o tipo de história que estamos imaginando, mas sim um novo conto. Ao invés de vermos o conto do “menino que tirou a espada da pedra”, que já vimos tantas vezes, aqui estamos chegando ao fim do seu reinado, que em breve precisará de um novo líder. Ao invés de focar a história em seu rei, conhecemos um novo herói, que almeja mais do que tudo a grandeza, e acredita estar destinado a ela. Então, se A Lenda do Cavaleiro Verde impressiona pelo que ele não é, impressiona muito mais pelo que é: acima de tudo, é uma história sobre honra, cavalheirismo e, principalmente, o poder das histórias.
Somos apresentados a Lorde Gawain (ou Galvão, como o cliente preferir), interpretado por Dev Patel. Gawain anseia por se tornar um dos nobres cavaleiros da Távola Redonda, ter suas histórias contadas e, mais que tudo, se sentir a altura dos feitos de seu tio. Foi por pensar assim que, de forma imprudente e completamente inseguro, aceitou o desafio do Cavaleiro Verde (Ralph Inelson, de “A Bruxa”). O Cavaleiro propôs que, aquele que o ferisse de qualquer maneira, dentro de um ano o encontrasse na Capela Verde para que ele devolvesse o mesmo ferimento. Passado esse ano, Gawain parte em sua própria perigosa e misteriosa jornada para cumprir com sua palavra.
O diretor David Lowery joga toda a sua paixão pelos contos do Rei Arthur nesse filme, e até toma liberdades criativas em prol de contar uma história mais envolvente. Principalmente sobre a família de Gawain. Mas sua mão transparece no visual lindo e grandioso do filme que, propositalmente, possui um ritmo lento, para que o espectador absorva tudo em todos os detalhes, os cenários, externos e internos, todas as lendas e magia envoltos naquele mundo. Uma paleta de cores riquíssima e um trabalho espetacular de figurino, design e arte.
Patel faz um trabalho incrível demonstrando simultaneamente a fragilidade e a honradez de Gawain. Ele sempre parece decidido a buscar a glória e ao mesmo tempo nunca parece certo de que a merece. O próprio confessa ao seu tio que nunca teve seu próprio conto ou fato importante para contar, e se estaria, de fato, destinado à grandeza. E é desafiado por outros personagens ao longo do caminho, como sua amada Essel (Alicia Vikander) que, lhe devolve: “Por que homens sempre almejam serem grandes? Ser bom não é o bastante?”.
É importante salientar que Gawain parte em uma jornada que não poderia haver outro fim. O próprio sacramentou seu destino ao não ouvir o aviso do rei sobre o desafio do Cavaleiro e desferir um golpe mortal. Ele parte, então, em uma espécie de jornada do herói invertida, é um personagem que não apresenta honra e apenas sonha com ela. Mas parte do caminho que traçamos se trata de nos mudar durante o processo. Nós nunca voltamos da mesma forma que partimos. E no breve vislumbre que ele tem, ao não mudar suas atitudes, estava destinado ao fracasso. Sua jornada era retornar para ser humilhado, ou não retornar e se tornar uma lenda. Ao perceber isso, ele indica que finalmente “está pronto”.
Um filme lindo, poderoso e que merece ser visto e revisto, A Lenda do Cavaleiro Verde é, sem sombra de dúvida, um dos filmes mais intrigantes do ano.
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