Resenha: Drácula (1ª temporada)
Ambos precisavam tirar a poeira do tempo. Tanto Drácula quanto o mito do vampiro fazem parte da cultura pop mas estavam em baixa há tempo demais. E a abordagem romântica de Crepúsculo não ajudou no histórico de quem cresceu com dentuços assassinos que caçavam suas vítimas ou até mesmo os melancólicos visto nos livros de Anne Rice. O fato é que essa nova versão de Drácula não só tira essa poeira do personagem de Bram Stoker mas atualiza certos conceitos em cima do próprio, tomando muitas liberdades para com o material original. Tais liberdades podem ter prejudicado um pouco a narrativa da série, mas o material ganha mérito por simplesmente fazer o personagem voltar à boca do povo;
Seguindo o formato de Sherlock, a mais marcante série do criador Stephen Moffat, a 1ª temporada segue com 3 episódios com duração de 90 minutos, ou 3 mini-filmes por assim dizer. Nos dois primeiros somos arrebatados pelo visual barroco dos castelos e suas sombras. Importante salientar a temática de como os episódios parecem filmes, pois é uma sensação muito clara nos episódios. No primeiro, vemos o clássico filme de castelo assombrando onde, através da narração de um desorientado Jonathan Harker (John Heffernan), vemos o seu primeiro encontro com o famigerado Conde. O segundo (e meu preferido) é um filme de terror fechado em si e o terceiro envolve uma trama que, mesmo tendo pinceladas da obra de Stoker, deixa a desejar.
Vamos começar pelos pontos positivos, o visual da série, como falei acima, é deslumbrante. A fotografia brinca muito com luz e sombras e se aproveita dos cenários lúgubres para criar essa atmosfera aterrorizante, mesmo o terror dela sendo leve. Parece que a série se inspirou muito no longa do final dos anos 50 que tinha Christopher Lee como o vampiro. E Claes Bang está inspiradíssimo como Drácula. Cada diálogo seu, mesmo aqueles que só falta o ator piscar para a tela (“eu não bebo vinho”) são bem passados e sua interpretação segura até os momentos mais caídos da série (como quase o episódio 3 todo). E outra grande personagens é Van Helsing, aqui Agatha (Dolly Wells) e não Abraham, com um sendo de humor seco mas com a mesma dedicação na caça do morto-vivo. Ambos possuem ótimos momentos, em especial no segundo episódio.
O lado ruim é a narrativa da série. Quer dizer, é no mínimo esquisita. A série toma liberdades demais para com o material original, suprime personagens importantes do livro para dar destaque à Drácula e às novas idéias que ela lança, nem todas bem vinda. Não vamos quase nada dos personagens periféricos que permeiam a obra literária, mas penso que a ideia foi essa, ter uma visão mais própria, mais original, preferindo elucidar as alegorias do mito do vampiro, como a permissão para entrar em ambientes e a repulsa à cruz. Não é uma má ideia, mas poderiam ter equilibrado ambos os pontos.
Mesmo assim é um material que vale ser conferido. Não tem o charme cativante do arco narrativo de Sherlock, mas com certeza agradará aos fãs de Drácula e dos bons tempos em que vampiros eram temidos e não adorados por sofrerem por amor.